Um dos dramas de um político carente de mediatismo é a falta de agenda. E vai daí, a tudo se deita mão para provar a eficácia, o profícuo desempenho, a inigualável garra destas águias dos céus.
Almeida Henriques, segundo uma notícia da Lusa “mostra-se satisfeito com a possibilidade de o concelho vir a estar incluído numa nova ligação aérea nacional…”. O jornalista pegou na coisa com pinças e segurou-se no “com a possibilidade de” e no “vir a estar”. Ou seja, domínio do “sê mas nê”. Pronto.
Logo de seguida, embalado para a descolagem – é sempre preciso dar força máxima aos motores para contrariar a força da gravidade – Almeida Henriques tira os dividendos do acto fazendo mais uma marca na coronha “Este é o fruto do trabalho que temos feito”. “Esta é uma causa que vale a pena” e acrescenta “Teremos de tirar partido desta janela de oportunidade” e remata “Esta será uma grande conquista. Viseu dará um salto muito positivo na sua conectividade”.
Uma análise básica ao discurso de Almeida Henriques denota, de imediato, o cliché enfático e vazio de sustentação em que instrui sua retórica. Ainda nada tem, mas é o fruto do trabalho feito, ou seja, vamos aos dividendos do que não existe. Uma causa que vale a pena? Qual causa? Ter um avião a passar pelo aeródromo? Já tivemos, na década de 80. Eu próprio voei para Lisboa e vim, nessa linha, de Lisboa a Viseu. Numa aeronave caduca de 18 ou 19 lugares, maioritariamente vazios, num projecto que em breve constatou a sua inviabilidade financeira e morreu, como nasceu, de morte prematura. “Janela de oportunidade”? que péssima metáfora, senhor presidente… Tirar partido da janela? Por onde vê a paisagem deslizar? E depois, imbuído dos feitos do novo recenseado local, Dom Afonso Henriques, já desenha no horizonte de Quybir as batalhas de São Mamede e de Ourique… “a grande conquista”! através de “salto muito positivo na sua conectividade”…
Valha-lhe Deus e toda a corte celeste!
Cautelarmente usando o futuro do indicativo, que ao Altíssimo pertence, esta possível, hipotética, previsível ligação aérea entre Bragança, Vila Real, Viseu, Tires, Portimão… num tempo em que não há chêta sequer para o gasoil nem para as portagens, vai ser a salvação turística do burgo.
A não ser que, agora acabadas as idas à Quinta da Malafaia e instituídas as idas a Fátima a troco de 5 € e uma merenda “pires”, se consiga um desvio ente Viseu e Tires, para passar pelo aeródromo do Santuário.
Também não é despiciendo o transporte dos milhares de brasileiros, crentes da Beata Madre Rita, que voarão de Santos, S. Paulo, Rio de Janeiro, Baía, Salvador… fazendo o transbordo directo em Bragança ou Portimão – os extremos tocam-se – rumo a Ribafeita.
O ridículo mata. Mas há quem disso não se aperceba. Nem será por mal, mas muitas vezes, o bom-senso mais determinaria a sensatez do silêncio do que este “fogo-faralho” tão efémero e inócuo.