Tivemos ontem o grato prazer de dar uma aula de 2 horas no âmbito do Programa Doutoral em Turismo, na Universidade de Aveiro.
Universidade de Aveiro que, com os seus 15.000 alunos, portugueses e estrangeiros, é uma poderosa força motriz de desenvolvimento de toda a região centro de Portugal.
Ninguém ignora o potencial económico deste sector que gerou 21,3 mil milhões € de receitas em 2022, e teve um contributo directo e indirecto de 16,8 mil milhões € para o PIB de 2021.
Logo, esta aposta da UA, faz todo o sentido na preparação técnica e científica de profissionais neste domínio em franca expansão.
Dando resposta ao convite da Professora Maria Eugénia Pereira, centrámo-nos na temática “Para uma pragmatização do conceito de ‘Turismo Literário’ nas Terras do Demo”, perante discentes interessados, muito participativos e desafiadores para os múltiplos “metalinks” sectoriais que se proporcionaram.
Aquilino Ribeiro, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Vila Nova de Paiva, o triângulo das “Terras do Demo” proporciona exemplarmente tudo quanto em teoria é possível incrementar no contexto do turismo literário, sem esquecermos a colateralidade quase infinita de possibilidades que, a partir deste “conteúdo”, se espraia à exploração dos agentes culturais, como, por mero exemplo, o turismo religioso, gastronómico, cinegético, vínico, biológico, etnográfico…
Com Aquilino Ribeiro, podemos começar por visitar no Carregal o Pátio dos Sanhudos junto à casa onde nasceu; ao lado a Igreja do Espírito Santo onde seu pai, o P. Joaquim Francisco Ribeiro oficiava, os ciprestes do cemitério que o assombravam de noite… e ler Cinco Réis de Gente.
De seguida, rumar ao Colégio da Lapa onde estudou de 1895 a 1900, visitar o Santuário da Lapa… e ler Uma Luz ao Longe e Terras do Demo.
Parar no Convento da Tabosa, e ler Valeroso Milagre, in Estrada de Santiago.
Ir a Moimenta da Beira e visitar o convento de S. Francisco e ler A Via Sinuosa, aproveitando para visitar Lamego e o Colégio da Roseira, onde estudou de 1900 a 1902.
Ler a Geografia Sentimental e passear pelas margens dos rios Paiva e Vouga. Ir à igreja da Nª Sª da Corredoura, nos Alhais, onde foi registado em Novembro de 1885 e subir um quilómetro e meio, a Vila Nova de Paiva, a velha Barrelas de um sino, terra do António Malhadas, o Malhadinhas…
Visitar Viseu, a Rua do Arco, a Rua do Gonçalinho. Visitar o seminário de Beja, visitar Lisboa… sem falar nos sítios onde viveu, em Paris, em Ustaritz, em Baiona ou as prisões onde esteve recluso… a Serra da Nave que tantas vezes calcorreou e ler O Homem da Nave, ou o planalto da Lapa onde caçou e ler Abóboras no Telhado e Arcas Encoiradas…
Ler Lápides Partidas e os seus primeiros anos de Lisboa. Assim como Um Escritor Confessa-se e fazer uma peregrinação por exemplo pelos cafés de Lisboa (Café Gelo, p.ex.) onde conspirava com os seus irmãos maçons e os seus primos carbonários…
Logo, do ancho políptico autobiográfico, traçar uma cartografia abrangente, ampla… que passa naturalmente pela Casa de Soutosa, hoje FAR e termina no Panteão Nacional onde está sepultado, ao lado do general Humberto Delgado, Sophia de Melo Breyner Andresen e Eusébio.