O pedido de demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, parece ter enchido de alarve gáudio o rebanho dos seus costumeiros detratores.
Após mais de 1 400 dias de exercício de funções públicas numa das pastas mais difíceis do Governo, Marta Temido, decerto saturada por ser o “bombo da corte”, bateu com a porta. Qualquer pessoa com princípios faria o mesmo.
Esta ministra, de ar aparentemente frágil, mas inusitadamente determinada, atravessou dois anos da maior pandemia mundial com férrea força ao leme da Saúde. E não soçobrou. No mínimo, os portugueses devem-lhe uma mão cheia de gratidão.
Soçobra agora aos politiqueiros carreiristas ávidos de mostrar serviço partidário, à cronicamente opositora Ordem dos Médicos, ao “sindicato” dos obstetras e a um funesto escândalo com a morte de uma parturiente indiana que perdeu a vida enquanto estava a ser transportada do hospital onde dera entrada para outro onde teria acesso aos cuidados necessários.
Evidentemente que esta é a visão simplista desta “fratura”. Há muito que se verificavam problemas, nomeadamente nas urgências hospitalares alegadamente devidos à invocada falta de profissionais. Também subiram de tom as exigências salariais e a recusa de mais horas extraordinárias – mal pagas, segundo o bastonário Miguel Guimarães – esgotantes, segundo os profissionais da Saúde. Pelos vistos, o “burnout” era eminente…
António Costa, o primeiro-ministro deste governo maioritário, aparentemente alheado de quanto se passa em seu redor, com a maioria da sua equipa em roda livre, de controvérsia em controvérsia, aceitou (aliviado ou preocupado?) esta resignação.
O sucessor de Marta Temido terá que ser um “santo milagreiro”, um “tapa-buracos” a prazo, com a tarefa extenuante de reunir consensos, agradar a gregos e a troianos, e com competente prestidigitação a tirar da cartola os coelhos suficientes para apaziguar tantos críticos, numa área assaz corporativista e de fortíssima pressão social.
(Foto DR)