Somos um povo de transgressores

Estas leis recém-criadas, em período de excepção, são todas más porque oriundas de um mau momento, de uma péssima situação, de um estado de emergência. Nestes contextos, buscar a benevolência da lei é um disparate. Mas maior é o seu incumprimento.

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  • 14:01 | Segunda-feira, 18 de Janeiro de 2021
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Transgredir, etimologicamente, significa ultrapassar, atravessar, saltar, ir além de…

É isto que a maioria dos portugueses tem andado a fazer, pondo a sua vida em perigo, o que sendo voluntário é grave, pondo a vida do seu semelhante em risco, o que, pelo compulsório, é gravíssimo.

E depois vem a ladainha do costume, a do preso por ter cão e do preso por não ter.


Tal, num contexto calamitoso no qual, Portugal é o 2º país do mundo e o 1º na Europa com a mais alta taxa de novos infectados por milhão de habitantes, tendo atingido o número médio de 885,8, só tendo à frente Israel ,e na Europa, estando no topo da tabela, seguindo-se-lhe a Irlanda, Andorra e a República Checa.

Ontem registaram-se 10.385 novos casos e 152 mortes. Os hospitais estão a entrar em colapso por falta de condições de acolhimento e tratamento dos pacientes. Os profissionais de saúde estão no limiar do “burn out”.

O Governo decretou medidas rigorosas de confinamento que alternadamente, como um intermitente pisca-pisca e para agradar ao ‘povão’ foi aliviando, como foi o caso do Natal. Instituiu multas elevadas para os prevaricadores, chegando a coima a quem não usar máscara nos locais obrigatórios, via pública inclusive, aos 1.000 euros. Ninguém as cobra e por isso é criticado. Mas se as cobrar, criticado será por tal fazer.

E porém, o que vemos através dos écrans das televisões? A absoluta normalidade. Os passeantes pré veraneantes, à beira mar e ruas fora, contando-se entre milhares os transgressores e por uma mão, os que cumprem a regra do distanciamento e do uso da máscara.

As escolas abrem, fecham, ou antes pelo contrário. Os ATL’s idem. Os pais que censuram o Governo por não fechar, exprobram-no se fechar.

A oposição aproveita a onda e vem surfar a crítica. Critica as restrições e o seu contrário. Aliás, na bancada é mais fácil jogar que dentro do rectângulo. E muito menos cansativo…

A Lei Seca nos EUA, que vigorou de 1920 a 1933, proibia a fabricação, a comercialização, transporte, importação / exportação e consumo de bebidas alcoólicas. Nunca se consumiu tanto álcool… Será que é preciso proibir para transgredir?

M. Yourcenar escreve em “Memórias de Adriano, que uma má lei é muitas vezes transgredida. Certo. As leis sendo feitas pelo homem, para o homem, nem sempre têm bom nascimento, por motivos que aqui não são agora trazidos. Estas leis recém-criadas, em período de excepção, são todas más porque oriundas de um mau momento, de uma péssima situação, de um estado de emergência. Nestes contextos, buscar a benevolência da lei é um disparate. Mas maior é o seu incumprimento.

Portugal e os portugueses fazem sacrifícios. O confinamento e as regras sanitárias puseram a economia de rastos. Vivem-se circunstâncias e conjunturas de desgraça, de falência, de pobreza, de miséria. Apanham-se depressões. Mas… o pior mesmo é a morte, na sua plena irreversibilidade. À morte não há volta a dar…

Vamos então cumprir ou não?

 

 

 

 

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