Síntese de alguns recentes escândalos na banca portuguesa (II)

    (Continuação)   “A sorte de Bernard Madoff esvaiu-se quase ao mesmo tempo que o sistema financeiro que lhe permitiu mentir durante décadas começou a implodir. O maior burlão da história é um produto de uma época marcada pela cobiça, pela ânsia de dinheiro fácil e pela existência quase nula de regulação no sector […]

  • 12:50 | Terça-feira, 16 de Dezembro de 2014
  • Ler em 3 minutos

 
 

(Continuação)

 
“A sorte de Bernard Madoff esvaiu-se quase ao mesmo tempo que o sistema financeiro que lhe permitiu mentir durante décadas começou a implodir. O maior burlão da história é um produto de uma época marcada pela cobiça, pela ânsia de dinheiro fácil e pela existência quase nula de regulação no sector financeiro. Foi essa cobiça que fez com que ninguém fizesse perguntas quando os juros eram favoráveis e que acabaria por provocar a crise da dívida. Por isso a burla de Madoff é a burla de um sistema selvagem onde ninguém fiscalizava os leões que andavam à solta.”
“Grandes Entrevistas 7”, Expresso
 
TRÊS
O que levou o BCP a falsear as suas contas a partir de 1999?
Durante 8 anos e até 2007 a administração do banco gerou um buraco de aproximadamente 600 milhões de euros. Utilizando três dezenas de offshores, compravam acções próprias e escondia as perdas.
A CMVM instaurou dois processos por falsa informação ao mercado, do qual resultou no primeiro uma multa de 5 milhões de euros, e no segundo a acusação individual de Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, António Rodrigues, Paulo Teixeira Pinto, Christopher de Beck, António Castro Henriques, Alípio Dias e etc., mais as respectivas condenações.
Surge depois um terceiro processo por crimes de manipulação de mercado e falsificação de documentos, contra dois desses ex-presidentes e dois ex-administradores do BCP.
O Banco de Portugal pouco ou nada fez no sentido de investigar os offshores, cuja existência não ignorava.
Na comissão de inquérito da Assembleia da República, o PS “portou-se muito mal”, para o apuramento da verdade factual… tentando salvar o supervisor e… estranhamente, o próprio banco em questão, na pessoa dos supra referidos.
Ficou famosa uma afirmação de Jardim Gonçalves nesta audição: “Não há pequenos accionistas com problemas, mas sim clientes com problemas de risco e de incobrabilidade…”
Hoje, o BCP para existir, teve que recorrer à linha de financiamento da banca pela troika, em 3 mil milhões de euros…
 
QUARTO
Ainda hoje não se sabe ao certo o montante que os contribuintes portugueses estão a pagar pelo caso BPN.
8, 9, 10 mil milhões? Mais?
Este banco foi criado por ex-governantes do PSD. Foi por eles falido e pelo PSD entregue aos angolanos por “tremoços”
Oliveira e Costa é o NOME. Accionista na SLN foi Dias Loureiro e até Cavaco Silva. Entre os devedores do BPN — alguns também se dizem credores — estão personalidades políticas e empresariais como Oliveira e Costa (o suposto cérebro), Cardoso e Cunha, Arlindo de Carvalho, Duarte Lima, Joaquim Coimbra, Aprígio Santos, Fernando Fantasia, etc. Ex-secretários de estado, ex-comissários europeus, ex-ministros, empresários e empreiteiros…
A Justiça, talvez devido à complexidade deste caso, tem-se arrastado com muita lentidão.
O que é a SLN?
É a Sociedade Lusa de Negócios, fundada em 1998, que teve na sua direcção Dias Loureiro, Daniel Sanches, Rui Machete, Franquelim Alves, tendo mais tarde, depois do rebentamento do escândalo, sido chamado o ex-ministro das Finanças de Cavaco, Miguel Cadilhe para administrador. Há muitos nomes envolvidos e muitas negociatas feitas, com compra de acções valorizadas a 147%, compra de mansões de praia, etc.
Como previsto, quase tudo passou ao lado do regulador do Banco de Portugal, o socialista Vítor Constâncio.
O BPN, depois de “limpo, passado e engomado” foi vendido ao BIC (de capitais angolanos) que é liderado por um ex-ministro de Cavaco, Mira Amaral, pela quantia de 40 milhões de euros.
A própria Comissão Europeia manifestou muitas dúvidas sobre o comportamento e acção do Estado português na resolução (?) deste assunto (?).
 
(…)
Nota Final:
Estes temas dariam panos para mangas de fardas de 10 regimentos de infantaria… trazê-los aqui, é reavivar a nossa memória.
Há centenas de factos e de links na net sobre estes casos.
Se despertei a curiosidade do leitor, através de um bom motor de busca, pode continuar a sua própria pesquisa e ao aprofundar, alarmar-se por sua conta e risco com o que vai descobrindo.
Aqui, nestes dois editoriais, deixa-se só o mero e superficial “lembrete”, esperando-se o desenrolar do presente caso BES/GES para, em tempo oportuno, escrevermos a IIIª parte (e esperamos que última) desta série de artigos.
O “sistema” é (era) “selvagem” e os “leões à solta” foram devastadores…
Depois do regulador Vítor Constâncio qual o papel do regulador Carlos Costa?
Boa questão. Responda quem souber…
 
(foto com DR)
 


Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Editorial