É pungente ver que na sociedade onde vivemos, o lucro é erigido a pedra de altar onde oram, penitentes, os apóstolos da ganância.
É triste ver um casal septuagenário ser desalojado e posto a viver na rua.
É lastimável que a lei seja pedra morta e que a acção de despejo de que foram vítimas, seja, na palavra de um advogado ouvido, completamente ilegal. E sem consequências.
A Maria José e o Alberto foram despejados do apartamento onde viviam há nove anos. Dizem que é para transformar o prédio em alojamento local, provavelmente nas mãos de especuladores imobiliários a correrem atrás da galinha dos ovos de oiro do pródigo turismo.
A Maria José tem 77 anos. O Alberto tem 75. Vivem na rua há dois meses arrastando atrás de si os parcos haveres que conseguiram trazer consigo e se resumem a 4 sacos de supermercado.
Moravam na rua Escola do Exército, em Arroios, uma freguesia da zona centro da capital muito cobiçada, num site estrangeiro designada como “the coolest neighborhood in the world”, logo zona que não é para velhos, velhos pobres, naturalmente.
Talvez a ausência de um tecto os mate. Ou o inverno. Ou a desgraça, Ou a miséria. Ou a indiferença. Aliás, qualquer motivo serve para quem chega ao fim de uma vida sem o direito de viver, ou acabar dignamente.
Nota final e como mera curiosidade: A presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Madalena Natividade, que tem este caso em mãos, foi candidata independente pelo CDS-PP através da coligação Novos Tempos, liderada por Carlos Moedas.
(Fotos DR)