Rugas fora ou “wrinkles out”, para parecer moderno…

Tudo se gasta, tudo se corrompe, tudo se decompõe, tudo se altera, tudo passa célere da vistosa novidade ao saturado “déjá-vu”.

  • 16:54 | Domingo, 09 de Fevereiro de 2020
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Tudo se gasta, tudo se corrompe, tudo se decompõe, tudo se altera, tudo passa célere da vistosa novidade ao saturado “déjá-vu”.

Estes tempos – recuso o epíteto de tempos novos – deslizam muito rápidos e fugazes para os ritmos das nossas vidas. Ou então, as nossas vidas não ganharam as asas de Pégaso e quase recusam, no seu pasmo, seguir Cronos em seu disco voador.

O efémero apossou-se de tudo num abraço de vigor surpreendente, apesar de ser em plástico e terileno.


Tenho um amigo que ainda circula no seu dia a dia remansoso e snob na limusina comprado pelo avô em 1928, que bem a gozou, até a deixar a seu pai, que dela abusou, até ficar para si, que nela vai andando, alheio aos seus 92 anos, ciente apenas que os 6 cilindros em linha não foram fabricados para falhar.

Outrotanto não ouso dizer do meu telemóvel topo de gama por 30 dias, até ser destronado por dois modelos chineses e, destroçado de despeito, se recusar definitivamente a comunicar com quem quer que seja. Ao menos, valha-lhe o efervescente temperamento, mesmo se em silêncio se render ao Sino criador.

Já nem me lembrava porque comecei tal crónica – a escrita de um tempo, como outrora a dos nossos façanhudos reis –, é que hoje a Rua Direita, esta filha “peneirosa”, ataviou-se de tafetás, sedas finas e buréis grossos… Diz quem sabe que o rosto de um jornal – agora dito lay out – no seu animismo, se esgota visualmente em meia dúzia de anos. Talvez. Mas ao que vejo e pelas rugas cansadas e marcadas, andam por aí muitos anciãos ainda catitas. E que, dada a sua digital “anima”, o rosto de uma plataforma é devorado pela traça em três anos. Vale o que vale. A cara da Rua Direita, mais seu esbelto corpinho, nada que foi em Novembro de 2013, lá se foi aguentando. O leitor não se queixa. Só se afasta ou habitua. E nós, os progenitores, tardamos em ver os defeitos na supimpa prole, olhando-os quase sempre com o cego afecto das primícias.

Mas hoje, a Rua Direita até parecer ter ido ao botox, ou para falar caro, parece ter botado toxina botulínica… Claro que estas modernices engendradas para ir a par do tempo – só faltava de mãos dadas – são coisas do Pedro, pois eu ainda estou, nesse domínio, em plena Idade do Bronze e se para lá dos ideogramas, cultivo a cuneiformia mesopotâmica e suméria. Dizia eu que o Pedro, na sua criptocyberlinguagem, foi o alfaiate das novas vestes e ora pois, aí estão elas a rodopiar na passerelle e a expor-se ao olhar crítico dos nossos leitores.

Da minha parte, ciente de quão custoso me vai ser habituar o pé velho ao escarpim novo, faço votos que a efemeridade galopante lhe dê, pelo menos, os tais três aninhos de vida airada… e lá para 2023 voltamos a falar, caso esse se por aqui formos andando, na claudicância atordoante da vertigem.

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