Absolvendo-se de qualquer culpa no contexto da invasão da Ucrânia, que provavelmente deveria ter aberto as suas portas e as suas casas com gritos de alegria pela chegada do Salvador, Putin esclareceu: “Aquilo que se passa é com certeza uma tragédia. Uma tragédia comum. Mas não é o resultado da nossa política, é o resultado da política de países terceiros.”
Traduzido por miúdos, a invasão da Ucrânia deveria ter recorrido “pacificamente”. A reacção dos ucranianos e da NATO, imprevistas para os invasores, provocou a “tragédia”.
Sergueï Choïgou, o ministro russo da Defesa foi claro sobre esta guerra: “Há que combater as forças unidas do Ocidente”. Daqui pode-se fazer a ilação de que a resistência da Ucrânia se revelou um poderoso entrave aos ideais expansionistas-imperialistas de Putin. A Ucrânia seria um mero teste à progressão russa, que de seguida entraria na Polónia, na Finlândia, na Suécia e na Noruega, depois de anexar os países bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia.
Evidentemente que ninguém ignora que o recurso a uma guerra nuclear representa a aniquilação global. Por isso, entende-se como um bluff, na esperança que, em derradeira hipótese, não sirva a um qualquer desesperado e alucinado acto de quem já perdeu tudo e nada mais tem a perder.
Anda assim, e perante a luta obstinada por uma vitória que tarda a vir e que, provavelmente, nunca se concretizará, Sergueï Choïgou achou necessário aumentar as suas tropas para 1,5 milhão de homens, contratando perto de 700 mil homens e aumentando a idade limite do serviço militar.
Ora, tal não sucederia nunca se os ventos marciais corressem à feição da Rússia, mais evidenciando uma política pugnitiva do tudo ou nada, no sentido de lavar a face do desaire.