Qual a espuma do discurso de Putin?

Ora, tal não sucederia nunca se os ventos marciais corressem à feição da Rússia, mais evidenciando uma política pugnitiva do tudo ou nada, no sentido de lavar a face do desaire.

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  • 22:08 | Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2022
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Absolvendo-se de qualquer culpa no contexto da invasão da Ucrânia, que provavelmente deveria ter aberto as suas portas e as suas casas com gritos de alegria pela chegada do Salvador, Putin esclareceu: “Aquilo que se passa é com certeza uma tragédia. Uma tragédia comum. Mas não é o resultado da nossa política, é o resultado da política de países terceiros.”

Traduzido por miúdos, a invasão da Ucrânia deveria ter recorrido “pacificamente”. A reacção dos ucranianos e da NATO, imprevistas para os invasores, provocou a “tragédia”.

Sergueï Choïgou, o ministro russo da Defesa foi claro sobre esta guerra: “Há que combater as forças unidas do Ocidente”. Daqui pode-se fazer a ilação de que a resistência da Ucrânia se revelou um poderoso entrave aos ideais expansionistas-imperialistas de Putin. A Ucrânia seria um mero teste à progressão russa, que de seguida entraria na Polónia, na Finlândia, na Suécia e na Noruega, depois de anexar os países bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia.


Perante este cenário que decorre desde 24 de Fevereiro de 2022, afirma-se firmemente disposto a desenvolver a potência militar da Rússia, não deixando de fora “a preparação para combate” da suas forças nucleares. “As forças armadas e as capacidades de combate das nossas forças armadas aumentam constantemente a cada dia que passa. E este processo, com certeza que vamos desenvolvê-lo” referiu e acrescentou: “Continuaremos a manter e a melhorar a preparação em combate da nossa tríade nuclear.”

Evidentemente que ninguém ignora que o recurso a uma guerra nuclear representa a aniquilação global. Por isso, entende-se como um bluff, na esperança que, em derradeira hipótese, não sirva a um qualquer desesperado e alucinado acto de quem já perdeu tudo e nada mais tem a perder.

Anda assim, e perante a luta obstinada por uma vitória que tarda a vir e que, provavelmente, nunca se concretizará, Sergueï Choïgou achou necessário aumentar as suas tropas para 1,5 milhão de homens, contratando perto de 700 mil homens e aumentando a idade limite do serviço militar.

Ora, tal não sucederia nunca se os ventos marciais corressem à feição da Rússia, mais evidenciando uma política pugnitiva do tudo ou nada, no sentido de lavar a face do desaire.

Este discurso de Putin perante os mais altos oficiais moscovitas mais se assemelha a um work shop de sensibilização e congregação dos militares em torno daquilo que hoje, apesar de toda a destruição perpetrada no território ucraniano e da morte de milhares de civis, inocentes velhos, mulheres e crianças, carece de uma sustentação ideológica suficientemente poderosa para dissuadir os eventuais dissidentes e calar, pela censura e coação, aqueles que a Putin se opõem.
(Foto e cartoon DR)

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