Porque é que há líderes como Ventura e Bolsonaro?

O que esta semana se desencadeou com a notícia de que André Ventura, negacionista convicto em matéria de vacinação, estava infectado com Covid19, nomeadamente no seio dos seus fiéis de Vila Real, é sintomático “study case” do cómico populismo e da atarantada crendice e nova fé no partido do homem que se crê o 4º pastorinho de Fátima e o messiânico descendente de Francisco Sá Carneiro.

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  • 12:18 | Terça-feira, 10 de Agosto de 2021
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De há milénios que os profetas se afirmaram no seio das suas hordas de fiéis, nomeadamente em períodos de cismas profundos e de convulsões religiosas, ideológicas e sociais.

Actualmente, o mundo em retrocesso aos mais diversos níveis, ameaçado, agredido, ofendido, sucessivo palco das mais diversas convulsões, calamidades, desastres naturais, refém de decisores políticos medíocres e de uma onda crescente de acriticismo, acefalia e iliteracia, tornou-se o ringue ideal para a emergência e pontificado de uma nova vaga de iluminados vates, cientes de que o “caldo” do ressentimento, do ódio, da animosidade é mesinha curativa da enferma humanidade.

O que esta semana se desencadeou com a notícia de que André Ventura, negacionista convicto em matéria de vacinação, estava infectado com Covid19, nomeadamente no seio dos seus fiéis de Vila Real, é sintomático “study case” do cómico populismo e da atarantada crendice e nova fé no partido do homem que se crê o 4º pastorinho de Fátima e o messiânico descendente de Francisco Sá Carneiro.


O caso serviu para dar alento e asas às mais delirantes teorias da conspiração, como esta publicada nas redes sociais pela distrital do Chega de Vila Real:

“Dizem que ele não tomou a vacina. Não o podemos criticar. Duvidam que se o André chegasse ao centro de vacinação cheio de funcionários do governo socialista do António Costa não lhe iam tentar injectar veneno mal percebessem que era ele? Todo o cuidado é pouco e recomendo aos militantes do CHEGA que não se identifiquem como tal quando vão tomar a vacina. Incomodamos muita gente e vão fazer de tudo para nos parar. Tomem cautela”… e acrescenta “A Nossa Senhora de Fátima está com ele e não vai permitir que um dos seus escolhidos sucumba a uma doença criada na China para destruir o Chega”.

 

No Brasil, outro negacionista-populista, Jair Bolsonaro, perante a sua crescente quebra de popularidade, inversamente proporcional ao aumento de vítimas da pandemia (600 mil óbitos), receoso do possível desaire nas próximas eleições presidenciais, segue o exemplo do seu ídolo norte americano, Donald Trump que, perante a inevitabilidade da derrota, criou a farsa da fraude eleitoral para tentar impugnar os resultados e ganhar nos tribunais, que não lhe deram razão, o que perdeu democraticamente e no terreno.

Desta feita, Bolsonaro atirou-se assanhado às urnas electrónicas, ameaçando interditar as eleições em 2022, fazendo apelos radicais aos seus apoiantes para se perpetuar no poder sem ser eleito, numa inimaginável ofensiva à Democracia brasileira, atitude, a persistir, que corre o risco de tornar Bolsonaro inelegível, acrescentada pela investigação que decorre aos eventuais crimes de abuso de poder económico e do poder político, corrupção ou fraude em processo eleitoral, uso indevido dos meios de comunicação, etc.

Tudo sucede na sequência da absolvição de condenações de Lula da Silva em processos da Operação Lava Jato, tornando o ex-presidente elegível em 2022, com sondagens que o colocam já à frente de Bolsonaro, o qual, se perder as eleições, perde também a imunidade presidencial, sujeitando-se a consequências que, entre outras, o podem levar à prisão.

 

(Fotos DR)

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