Desde a tragédia em que redundou a batalha de Alcácer Quibir que os portugueses ficaram órfãos. Orfãos de um Messias que os iluminasse, que os conduzisse que os pastoreasse…
O sebastianismo tornou-se mito, e como “o mito é o nada que é tudo”, segundo Pessoa, que ademais escrevia: “Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade”, o mistério passou a fazer parte da lusíada existência.
Muito bem, não tivemos D. Sebastião, para sempre pedido nos areais pantanosos do norte de Marrocos, mas vieram logo de seguida os “primos” espanhóis governar-nos por 60 anos (1580-1640). Um mal nunca vem só, pois “de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos”.
Até aos nossos dias, de Sidónio Pais a António Salazar, foram surgindo, envoltos no seu manto nevoento, outros Messias.
Os portugueses projectam sempre as suas esperanças no que há-de vir. Mesmo que seja para depois o vituperarem e almejar por novo Sebastião.
Porém, agora, cedendo ao impulso do retorno (“O bom filho à Pátria torna”, diz o povo), tem “andado por aí”, na célebre frase de um seu antecessor, o efémero PSL, que alguns julgaram ser a sigla de Puro Sangue Lusitano.
Ontem, como se de um “flash” se tratasse, Passos Coelho reapareceu, palestrou e colheu os grandes elogios – dizem que premonitórios – do presidente da República, que muito lhe gabou o passado e anteviu auspicioso futuro.
Agastado, no meio de abraços pungentes, Montenegro saiu do evento de sorriso crispado, sem palavras aos jornalistas, premente em afastar-se do local.
Se tivéssemos dotes adivinhatórios, neste país de tantas Sibilas, diríamos que Passos Coelho caminha, para já ao pé-cochinho, para Belém.
De facto, com os sucessivos desaires políticos do actual governo, com o aumento exponencial do descontentamento, e emergindo no horizonte próximo quatro decisivas eleições…
Maio ou Junho de 2024 – Eleição dos Deputados ao Parlamento Europeu;
Setembro ou Outubro de 2025 – Eleições Autárquicas;
Janeiro de 2026 – Eleição do Presidente da República;
Setembro ou Outubro de 2026 – Eleições legislativas.
… naturalmente que as duas primeiras condicionarão muito as duas últimas e, para chegar a 2026, a estrada tem que começar a ser trilhada.