Este governo de António Costas tem mais secretários de estado que um batalhão (ou quase, pois este vai de 500 a 800 militares). No meio desta aturdida multidão estarão políticos muito competentes e outros pouco competentes. Até anedotas, sem grande sentido das circunstâncias e até muito adregados à boutade fácil, ligeira, corriqueira, do tipo… uns tremoços, duas iscas de fígado e meio quartilho.
O pior é que estes fabianos, crendo-se espirituosos, engraçados e bem-humorados, peroram umas alarvidades pouco consentâneas com assuntos da máxima seriedade e que lhes deveriam merecer todo o respeito.
O aeroporto de Montijo nasceu embrulhado em controvérsia. Se é reconhecido por toda a gente a necessidade de uma estrutura daquele tipo para servir de alternativa exequível ao engarrafado aeroporto da Portela de Sacavém, ou Humberto Delgado, para servir o centro-sul de Portugal e para desviar parte do tráfego aéreo da capital, polémica tem sido a indecisão na escolha do optimizado local para o construir. A hipótese de Alcochete não colheu. A de Montijo apresenta-se com os seus críticos e são muitos, desde civis, engenheiros, militares, ambientalistas… E foi a propósito da oposição destes últimos, saídos em defesa das dezenas de milhares de aves de médio e grande porte que no estuário do Tejo têm um território de excepção, e na sequência do estudo da ANA sobre o impacto ambiental que, o iluminado secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, decerto agastado com a invocada passarada, proferiu esta pérola zoológico-retórica “os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem”.
Mas não se ficou por aqui e criticou os “protetores das espécies, de matriz radical e insensata” tais como aqueles que receiam pela morte dos caranguejos, os quais, devido à sua fraca velocidade de locomoção, não deverão conseguir fugir das máquinas quando as obras arrancarem.
Na mesma toada humorística, salienta:
“É o princípio da precaução levado ao risível”, pois “Os caranguejos podem ser lentos, mas não estão em extinção. É um impacto não mitigável.”
Quem é este secretário de Estado?
Do seu CV oficial consta:
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e mestre em Ciências Jurídicas Direito Europeu, pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa.
Até à sua nomeação para Secretário de Estado Adjunto e das Comunicações era vogal não executivo do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, presidente da Comissão de Governo da Caixa Geral de Depósitos, membro da Comissão de Auditoria e Controlo Interno da Caixa Geral de Depósitos, membro da Comissão de Nomeações, Avaliações e Remunerações da Caixa Geral de Depósitos, presidente do Conselho de Administração da Fundiestamo.
Anteriormente exerceu vários cargos empresariais: no Banco Europeu de Investimento, “Data Protection Officer” (2012-2017); na Aveiro Pólis, membro do Conselho de Administração (2001-2005); no Consórcio Aveiro – Cidade Digital (1998-2001), presidente; no Banco Europeu de Investimento (1991-1998), no Departamento Jurídico; na Caixa Geral de Depósitos, na Direcção dos Assuntos Jurídicos (1984-1991).
Exerceu ainda cargos em entidades públicas não empresariais: foi vice-Presidente da Anacom, Autoridade Nacional das Comunicações (2006-2012); Presidente da Câmara Municipal de Aveiro (1998-2005); presidente da AMRia, Associação de Municípios da Ria (1998-2001), etc.
Logo, um jurista muito ligado ao banco público CGD, autarca de Aveiro, ex-Anacom… decerto sabe do que fala, mormente de fauna descartável.
O mais interessante é este concorrente do Bruno Pereira, do Nuno Markl e do Ricardo Araújo Pereira, sem ofensa, dizer estas balelas todas sem se rir…