Não tenho a superior virtude de pertencer aos quase 10 milhões de portugueses adoradores da bola.
Aliás, creio até que nem fui ou sou adorador do que quer que seja. Antes de feitio solitário e dado aos prazeres simples da leitura, do desenho, da fotografia, da música e da boa gastronomia. Provavelmente, em tempos idos, o leque seria mais alargado. Mas confinou-se, como os tempos vividos.
Tempos vividos que não são iguais para todos. Na compreensão das paixões exacerbadoras dos corações, compreendemos que estar 19 anos privado da epifania de um amor possa ser uma contenção e repressão dolorosa. E aceitamos que, de súbito, a chama se reacenda esplendorosa, irradiante e rútila.
Já não compreendemos que a dita chama se possa tornar no ígneo triunfo da doença sobre a saúde periclitante e depauperada de milhares de portugueses.
Com os legítimos festejos dos adeptos do Sporting Clube de Portugal mostrou-se um país descontrolado, rendido à euforia clubística, em tempos nos quais, a todos, tudo é desaconselhado, proibido, reprimido.
Passa-se a imagem de um país irracionalizado pelas suas pulsões mais básicas. Assim a modos que a Índia, com média diária de mais de 4 mil mortos pela covid 19, mas em festejos religiosos que juntam mais de um milhão de criaturas, pedindo, paradoxalmente a um Deus zangado com a bestialidade humana, que lhes conceda saúde…
(Fotos DR)