Há muito que os partidos políticos são territorialmente regidos por “famílias”.
Ciclicamente aparece um clã a pontificar. Por vezes, depois de um certo período, hiberna e reaparece “reciclado”, com caras novas mas com o mesmo apelido. Uma espécie de ió-ió. Também mudam com os ciclos do poder central, ficando a aboberar temporariamente à espera da sua vez.
Poder-se-ia fazer a História local dos partidos, na sua diacronia, pelos apelidos mais recorrentes da “militância activa”. E depois, num exercício interessante de pesquisa, ver as ramificações familiares e dos amigos nos cargos ocupados de nomeação política e colaterais a essas nomeações. Um “study-case” para uma tese de doutoramento.
Cria-se assim uma rede de dependentes, de interesses e de influências semelhantes aos múltiplos tentáculos de um polvo.
A cunhada vai para um lado, as irmãs vão para outro, os cunhados ficam além, os amigos acolá, as amigas por aqui…
Uma nora de autarca? É para já. O filho de um autarca? Já tardava. O irmão daquele amigo? Para ontem. A prima daquele apoiante? Para amanhã. O sobrinho de um compadre? Para a semana…
Os outros, esses, trilham o caminho da facilidade, sem escolhos nem abrolhos, mas também sem merecimentos. E se sabem que toda a gente sabe como lá chegaram, fazem-se surdos ou desapercebidos e na sua dissimulação até parecem dotados de muita aptidão e talento. A aptidão que um clubístico cartão lhes concede e o talento que 2 work shops legitimam. Mais nada.
Até podem ser nomeados motoristas do governo, mesmo se com reincidência de processos por alcoolemia, mas isso são meros lugares de confiança política que qualquer “zé dos tachos” com vulgar astúcia e uma dúzia de garantidos votos alcança.
Esta malta desprestigia a classe política. E não sendo todos farinha do mesmo saco, pelos exuberantes esforços em prol da rede, no seu frenesim acabam por parecer que são muitos e inquinar tudo ao seu amplo e abrangente alcance.
E depois admiram-se do descrédito generalizado, como se indignam quando lhes fazem refinados manguitos…