Segundo as notícias de hoje, o Washington Post, o tal das “fake news” segundo Trump, por exaustiva análise feita, concluiu que em duzentos e poucos dias de presença na Casa Branca, o presidente dos EUA mentiu mil e tal vezes, a uma média de aproximadamente cinco mentiras por dia, o que faz dele, segundo os especialistas, um perigoso mentiroso compulsivo.
Porém, há quem vá mais longe e considere estarmos perante uma pérfida estratégia de adulteração da percepção da realidade, fundada no princípio de que uma mentira exaustivamente repetida acaba por se tornar numa verdade aceite pelas massas.
Se o leitor lidasse, em sua casa, no seu trabalho ou lazer com um indivíduo que lhe mentisse cinco vezes ao dia, que crédito lhe concederia?
Porém, e o povo o diz, “quanto maior é a nau maior é a tormenta” e, a um determinado nível, usando até à exaustão o Twitter, numa assertividade de frases curtas e mal construídas, ele chega ao âmago do povo americano que e não obstante ser considerado por mais de 60% desonesto, lhe acham piada…
O New York Times, por seu turno, fez a listagem exaustiva das atoardas do “rei das petas” e as conclusões são preocupantes porque ele mente sobre os assuntos mais cruciais da realidade política mundial, como, por exemplo, a Organização do Tratado do Atlântico, a Guerra do Iraque, o decreto anti-imigração, o número de participantes na sua tomada de posse por comparação à de Obama, a intervenção da Rússia na sua eleição, etc., etc., etc….
Talvez por isso, James Comey, o ex-mister FBI, tivesse testemunhado sob juramento não confiar na honestidade intelectual e moral de Trump, requerendo a gravação em acta das reuniões, assim se fundamentando: “Eu estava honestamente preocupado com a hipótese de ele poder mentir sobre o motivo da nossa reunião, e pensei também que seria realmente importante deixá-la guardada em acta”.
Este sui generis modo de agir que já tínhamos também visto em Portugal, com principal incidência no governo PàF, de Passos Coelho e Paulo Portas, nas bocas de quem, frequentemente, a mentira de ontem era a verdade de amanhã, e vice-versa, inaugura uma nova forma de fazer política centrada no desinteresse, incapacidade de discernimento e iliteracia de um povo que foi, anos a fio, conduzido perfidamente à larvar ignorância, à destituição da capacidade de pensar por sua cabeça e, fundamentalmente, ao desinteresse e descrédito dos políticos que, cada vez mais, são vistos como actores de 3ª de um talk-show televisivo.
Com a ajuda dos meios de comunicação de massas e das redes sociais mais populares, perante a amnésia colectiva e a efemeridade da “notícia”, esta nova forma de fazer política mostra a grave crise a que ela chegou, a nível mundial, através da perniciosa manipulação da realidade e da soez divulgação da falsidade.
Em consequência, quando o presidente de uma das maiores potências mundiais trivializa a mentira, porque não há de o cidadão comum fazer o mesmo, tornando-a no seu linguarejar quotidiano? E onde nos conduzirá esta viral predominância da ficção sobre o real?