O tartufismo da comunicação social

Emoção que atingiu o seu cúmulo quando se projectaram imagens de João Rendeiro em pijama e sobre essa peça tão íntima de vestuário, se teceram dezenas de opiniões.

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  • 15:42 | Segunda-feira, 13 de Dezembro de 2021
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A qualquer custo, uma nova vaga de “jornalistas” em busca pouco afanosa do significado de ética, serve ao público um sensacionalismo populista que raia o abjecto.

E é com essa abjeção disfarçada de notícia que engendram horas a fio de conteúdos repetitivos, passados o dia inteiro nos canais televisivos, até à exaustão.

É evidente que só o fazem porque os directores e os editores os incentivam a isso. E fazem-no para dar ao público o que ele anseia ver.


Tal, nesta era confusa, faz disparar o índice de audiências. E disparando o índice de audiências, disparam os custos das tabelas de publicidade e, deste modo, entra o dinheiro em catadupas para dar conforto ao pagode. Pagode, entenda-se aqui como eufemismo de acionistas ávidos de lucro.

O caso Rendeiro é disso paradigma. Houve estações de televisão que mandaram equipas à África do Sul para se postarem, in situ, frente ao tribunal onde o ex-banqueiro está a ser ouvido, para transmitirem directos verosímeis e palpitantísssimos de emoção.

Emoção que atingiu o seu cúmulo quando se projectaram imagens de João Rendeiro em pijama e sobre essa peça tão íntima do vestuário, se teceram dezenas de opiniões.

Naturalmente que a comunicação social, que já foi o quarto poder, sabe ler os astros e os mercados e, em função deles assim age. A comunicação, que é etimologicamente o acto de tornar comum, não deixe assim de existir. O social também está presente, aqui e naquilo que representa um colectivo de pessoas. Contudo, urge perguntarmos que sociedade é esta que estimula, em termos de consumo, o mais rasteiro e soez que a informação tem para dar.

Perderam-se os limites, as privacidades são escancaradamente invadidas, a catarse que provoca o sofrimento alheio, a morte, a desgraça, o sangue, apazigua os egos doridos e faz da dor de cada um algo de partilhável e de minimizável, porque há sempre alguém pior e mais vil que nós.

Entretanto, o director da PJ que é pago para exercer a sua actividade com natural eficácia, de repente e fruto desta mediática detenção, mais parecia um Nureyev do teatro de Bolchöi, em pontas, a dançar O Lago dos Cisnes.

Também em pontas, na avidez do protagonismo a qualquer custo, surfando a onda, vimos líderes partidários, muito ufanos, a parabenizar ardentemente esse director e suas hostes. Compreende-se. Os desaires têm sido tantos que a coroação em dia de glória era inevitável.

Só falta mesmo o presidente da República condecorá-lo no Dia da Raça. Porquê? Por ter cumprido a sua função num país de incumpridores. A começar, claro está, pelos políticos que nele viram o seu alter ego…

 

(Foto DR)

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