Paulo Quintela, professor catedrático da Universidade de Coimbra, nasceu em Bragança em 1915 e faleceu em 1987.
Quando frequentei essa prezada academia, nunca tendo tido o privilégio de ser seu aluno (ele era um germanista eu era um aprendiz de românicas), mesmo se já jubilado, Paulo Quintela tinha o seu canto e a sua corte na FLUC.
Era no bar, quem entrava pela direita, na mesa desse canto. Com ele era frequente estar o meu dilecto professor, José de Oliveira Barata, um dos maiores teatrólogos portugueses – se não o maior – que foi exactamente meu mestre à disciplina de História de Teatro. O que eu aprendi com ele e com a sua erudição. O que se aprendia com Paulo Quintela, a ouvi-lo dissertar à mesa do café. Chegava a faltar a aulas para o ouvir, de longe, timidamente, na certeza de que ali, informalmente, a aprendizagem era sempre acrescida.
Paulo Quintela foi o maior germanófilo português de sempre, enquanto estudioso da Cultura Alemã. Hoje, sucedeu-lhe Maria Filomena Mölder, extraordinária Mestra, esposa do grande fotógrafo Jorge Mölder, de quem fui aluno na FLUL de um curioso seminário semestral do mestrado, designado “Ornamento e Estilo”, leccionado através da leitura de “Os Sonâmbulos” – essa obra preciosa – do austríaco Hermann Bröch, autor também de “A Morte de Virgílio”, outra obra canónica. Lê-lo e a Robert Musil (“O homem sem qualidades”) é quase obrigatório para a compreensão de uma Europa decadente e em profunda crise de valores, do primeiro terço do século XX.
Voltando a Paulo Quintela, que sabia mais alemão do que 99% dos alemães, foi também um tradutor exímio, reconhecido com a Medalha de Ouro do Goethe-Institut e o Prémio Europeu da Tradução… As suas traduções de Goethe e de Rilke são pura luz.
Memória também de um grande outro eclético tradutor e autor lusitano, Vasco da graça Moura, que também tive o gosto de conhecer pessoalmente. Hoje, o maior nome da tradução portuguesa será Pedro Tamen.
Paulo Quintela, nos seus últimos anos, chegava ao pátio da Universidade no seu “carocha” laranja (Volks Wagen – o carro do povo). Víamo-lo estacionar, naquele seu jeito de um toque no da frente outro toque no de trás (o seu VW tinha mossas por todo o lado), sair com esforço apoiado na sua bengala encastoada a prata e subir os degraus com a pose aristocrática e humanista que lhe eram inerentes.
Esta imagem que dele publico é de Tóssan, pseudónimo de António Fernando dos Santos, grande ilustrador e pintor.
Não sei porque comecei este texto, talvez por me estar a deleitar com a compulsação de os “Poemas”, “As Elegias de Duíno” e “Sonetos a Orfeu”, de Rilke, com prefácio, selecção e tradução de Paulo Quintela.
E sendo a conversa como as cerejas…
Paulo Neto