O caso “Face Oculta” reconciliou a Justiça consigo própria e com os cidadãos. Calou muito incrédulo e mais cépticos. Fez ressurgir uma onda de esperança em Portugal.
Pela primeira vez, e após três anos de profícuas investigações, condenou de uma assentada, a prisão efectiva, um ex-ministro outrora todo poderoso, um ex-secretário de Estado com muito posterior poder na REN, um advogado e um director de empresa pública, entre outros.
Os defensores dos arguidos “discordam mas respeitam”. Naturalmente. Os condenados sentem-se injustiçados. Naturalmente. Vai começar a impugnação das sentenças e a apresentação de recursos. Naturalmente. São estes os normais procedimentos judiciários num país democrático.
Agora, o importante, é que a Justiça não perca esta fantástica força anímica e dê continuidade, sistemática e crescente ao julgamento consequente de todos os “colarinhos brancos” que há décadas andam a macular a democracia, a legalidade e as boas práticas, sejam do poder central, sejam do poder local, sejam económicas, públicas e privadas… Todas!
Isto do povo pagar dislates, prepotências crónicas, fraudes, corrupções deveria ser, de vez, redireccionado para os contumazes praticantes. Exemplarmente. Talvez se lhes acabasse com a raça!
Volte-se, também aos grandes crimes económicos, ao BPN, ao BPP, ao BES e julguem-se ou (re) julguem-se todos os implicados, sem excepção. Aos casos de corrupção que deram prisões na Alemanha e em Portugal nem julgados foram. Volte-se ao caso Camarate. Localmente e como modelo apurem-se todos os contornos opacos do caso Lusitânia, SDR e assim sucessivamente…
Quando os criminosos de guerra oriundos da Alemanha, do Chile, da Sérvia, do Sudão, da Líbia, da Síria, da Palestina, de Israel, da Rússia… foram no passado e forem no futuro julgados e condenados no tribunal de Haia, infundiu-se e infundir-se-á temor aos putativos e futuros criminosos. Desde Nuremberga…
Também em Portugal deveria passar a mensagem que ninguém, sem excepção, paga pelos seus actos ilegais e/ou criminosos. De um presidente da República a um primeiro-ministro, se “facilitarem” no exercício “sagrado” das suas funções.
Talvez muita e má gente, entre políticos, carteiristas, banqueiros e empresários começasse a perder a vontade crónica e sistemática de prevaricar. Começasse a respeitar as leis, as promessas eleitorais, a medir o alcance e consequências dos seus actos ou a ausência deles. A perder a leviandade e a ganhar “juízo”, respeitabilidade, responsabilidade e competência….
E se fosse preciso construir mais cadeias creio que não havia nenhum português que se negasse a contribuir com uma semana de salário para tal imperiosidade, se isso representasse a irradicação desse sentimento de imunidade e impunidade que a tanto atrevimento tem dado azo, tanto despudor e fraude tem gerado e tanto dolo tem causado.
Assim, far-se-ia um Portugal melhor e se muitos políticos e administradores da coisa pública e privada fossem judicialmente responsabilizados pelos seus actos, o ar deste país tornar-se-ia muito, muito… mais respirável.
E para dar início à “coisa” deveriam julgar-se todos os autarcas que levaram os municípios por onde arrastaram sua incompetência, desrazão, populismo, facilitismo, amiguismo, megalomania e corrupção… à falência total.
Falência que agora vai ser sustentada pelo FAM (Fundo de Apoio aos Municípios) que, o mesmo é dizer, por todos os contribuintes portugueses. E são muitos milhares de milhões…
Se o problema da Justiça é a falta de meios, humanos e materiais, que tudo lhe seja concedido para não terem desculpas ou pretextos. Mesmo que isso signifique também, exportar, urgentemente, Paula da Cruz!