Almeida Henriques aproveitou a reunião da Assembleia Municipal para fazer o balanço deste seu ano de exercício autárquico, repudiar críticas ao despesismo e exercer o auto-panegírico.
Neste ano, segundo ele, “as dívidas baixaram 3,5 milhões de euros e o volume de activos cresceu 3 milhões”. Mais refere que o saldo de gerência “é hoje suficiente para cobrir 14,64 vezes as dívidas do curto prazo contra o rácio de 11,11 em 2013” e acrescenta “o que significa que representa 121% das dívidas do médio e longo prazo contra os 92% de há um ano atrás”.
Este milagre de recuperação económica deixa-nos perplexos. Primeiro, porque subentende uma deficiente gestão do seu antecessor, de quem julgáramos ter herdado uma situação altamente confortável em termos financeiros. Não será assim e aqui temos “um puxão de orelhas” a Ruas. “Eu é que sei!”, parece dizer Almeida Henriques que remata assertivo: “o saldo de gerência em Setembro deste ano é de 25,6 milhões de euros o que significa um crescimento superior a 2,9 milhões de euros.”
Porém, algo nos escapa. De onde vem esta confessada vitalidade financeira? É que, contudo e segundo o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, edição de 2013, Viseu foi um dos municípios onde a receita do IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) mais cresceu ocupando o 27º lugar a nível nacional, entre mais de três centenas de autarquias.
Só no último ano, 2013, a receita aumentou 18% transformando os cerca de 10,1 milhões de euros arrecadados em 2012 em 12 milhões apenas neste último exercício. Mérito de António Almeida Henriques? Não, consequência direta do “enorme aumento de impostos” gizado por Vitor Gaspar que se traduziu na reavaliação de todos os imóveis com o consequente aumento do seu valor patrimonial.
A isto podemos somar ainda as receitas extraordinárias resultantes das cobranças coercivas (IUC) que hoje atormentam muitos portugueses e que, em parte, entram sem “pedir” nos cofres e nas contas das autarquias. Mas, importa não esquecer, tratam-se apenas de receitas extraordinárias, receitas que pela sua natureza são irrepetíveis.
Quando, com tanta festarola e tão pouca obra à vista (está à espera das verbas comunitárias, especifica) faz o milagre da “multiplicação dos pães”, de onde vem o dinheiro?
Será que, afinal, provém do aumento dos impostos autárquicos?
Ou de outra qualquer fonte de rendimento? Qual? Andarão os viseenses a pagar impostos em excesso, os quais, apesar de nada se ver de palpavelmente duradoiro em obra, são gastos em excessos efémeros e ainda dão para “milagres”?
Terá sido, afinal, a gestão de Ruas tão displicentemente desastrosa e negligente, que Almeida Henriques em 365 dias conseguiu “repor na linha o trem descarrilado”?
Há factos que carecem de melhor explicação. A verdade não é tão flexível que permita uma “décalage” tão grande da realidade dos factos.
E os factos não são retoricamente manipuláveis, pois não?