O insone perde a noite. O ocioso mata o tempo

A pandemia obrigou ao Estado de Emergência. Este, confina-nos a uma certeza de sempre, se bem que varrida das memórias tristes. A da incerteza do futuro e da efemeridade do existir.

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    • 21:18 | Terça-feira, 24 de Março de 2020
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    Nestes tempos novos ou tão velhos como as 7 pragas bíblicas ou do Apocalipse, todos reaprendemos hábitos há muito perdidos e reinventamos fórmulas esquecidas para viver este inúsito quotidiano.

    A pandemia obrigou ao Estado de Emergência. Este, confina-nos a uma certeza de sempre, se bem que varrida das memórias tristes. A da incerteza do futuro e da efemeridade do existir.

    Sem bem sabermos o dia de amanhã, mal despertados para uma realidade que nos coloca em estado de sítio mental, acalentamos a esperança pródiga de que a nós e aos nossos nada de mal acontecerá. A essa esperança nos agarramos, frágeis iludidos a arredarmos da mente a intrusão da calamidade.


    De súbito, somos milhões de ociosos, reclusos na endogenia salvadora, a ver pelo écran, como se fosse uma ficção de Hollywood, os que sofrem e morrem e os que, afanosamente, cuidam e lutam pela vida alheia.

    Neste ermitério onde hibernámos, a noite no seu silêncio pesado, traz-nos angústias inquietas. Perdemos a noite a debater o que o dia nos trará. E no dia que já quase chega, numa alvorada cinzenta, receosos pelas matinais notícias do exterior onde a guerra se trava, recorremos a uma aparente fleuma para enfrentar as rotinas feitas de um ócio remansado e reflectimos em como matar o tempo…

    Trocadilhos semânticos vãos. O tempo é imortal, invencível e inexorável. E é ele, sem alardes, que levará a todos nós.

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