Até nas aplicações das penas de morte havia uma discriminação curiosa. Aos nobres e ricos cabia a decapitação. Ao povo, o garrote… António José da Silva, poeta e dramaturgo assim foi morto pela Inquisição em 1739. Bernardo Santareno recriou o episódio na narrativa dramática, “O Judeu”, 1966.
Este governo pôs ao povo o garrote e, com requintes de crueldade, anda há quatro anos a apertar, lentamente, o torniquete, numa asfixia lenta, gradual, persistente…
Depois de mirabolantes promessas que levaram o povo a dar-lhe uma maioria absoluta, de forma cirúrgica, porfiada, sádica, encetou a destruição dos serviços públicos para passagem aos amos privados; da classe média-baixa portuguesa; do funcionalismo público; do estado social; privatizou o que tinha valor; vendeu património histórico-cultural; mandou para o “degredo” centenas de milhares de jovens; “exilou” centenas de milhares de desempregados, conduzindo-os à fronteira; agravou supliciantemente a carga fiscal; criou o terrorismo tributário; despojou os aposentados da sua dignidade e expectativas de vida, ao fim de dezenas de anos de respeito contributivo; cevou a “porca” do Estado; gerou mais riqueza nos muitos ricos; degradou todos os serviços públicos; desencadeou o caos na Justiça, na Saúde, na Educação; implementou a municipalização destas duas últimas; incentivou as escolas privadas destruindo a escola pública; decapitou o SNS em prol das clínicas privadas; entregará o ISS às seguradoras; levou a precariedade laboral ao seu culminar; aumentou o desemprego e a dívida pública; fez de Portugal o clown triste da Europa e o lambe-botas da Alemanha…
Mas eis senão que… o milagre se anuncia. Em ano de “vacas gordas” com os dinheiros comunitários do 20-20, a menos de 8 meses de eleições legislativas, com os cofres do erário a abarrotar dos impostos velhos, novos, renovados, inventados, reciclados e saqueados aos portugueses, Coelho, o tal que “não tinha consciência de que devia pagar impostos à Segurança Social”, começa a aliviar o torniquete do garrote e a pedir, sem pejo nem vergonha, “uma maioria absoluta” em Outubro.
E todos os dias, gota-a-gota, pinga uma restituição, uma benesse roubada, uma mirífica expectativa. Hoje mesmo, as rádios anunciavam perdões fiscais aos prevaricadores das auto-estradas coercivamente cobrados pela AT, ao serviço da Brisa, Ascendi & Lda.
Mas a sofreguidão é tanta no vertiginoso passar de besta a bestial que surgem cartazes como este primor do “+Saúde!” (talvez para os finados às portas das urgências hospitalares), com o cínico slogan “Acima de Tudo Portugal”, com erros ortográficos (é tal a ligeireza da mentira) e a prometer “isenção de taxas moderadoras no SNS a todos os menores de 18 anos!” (com ponto de exclamação de atónito espanto)… “Tratam-se de 6 milhões de portugueses”… o que é muito estranho, pois segundo os dados do INE – Censos 2011, a população portuguesa é assim dividida etariamente:
Dos 0-14 anos —» 1.572.329;
Dos 15-24 —» 1.147.315;
Dos 25-64 —» 5.832.470;
Dos 65 e > —» 2.010.064…
O que nos daria o número de 2.719.644, se por académica hipótese e esforço estatístico considerássemos a população portuguesa com menos de 24 anos, e não os 6 milhões da absurda e pérfida mentira constante do cartaz eleitoralista do PSD. Mas já dá para perceber, a partir deste ilustrativo exemplo, o som e o tom da catrefada de mentiras que por aí vai chover.
Além da boçal ignorância… Tenham um mínimo de vergonha e respeito!