O líder do Chega, em transe místico, atrás de um azinheira, no chão prostrado, sentiu-se O Escolhido.
“A 13 de Maio de 1917 Portugal mudou para sempre. Fomos escolhidos! Também eu senti esta mudança profunda num 13 de Maio da minha vida. Hoje sinto, sei, que de alguma forma a minha missão política está profundamente ligada a Fátima. É este, talvez, o meu grande segredo.”
Esta é uma das plurais mensagens com o que o líder do Chega enxameias as redes sociais
Estranha-se mesmo (ou talvez não) o alheamento da Igreja católica portuguesa perante esta utilização desavergonhada e para fins eleitorais dos seus símbolos maiores.
“Sinto que Deus me concedeu esta missão” é outra das frases-chave do candidato a presidente pelo Chega.
É conhecido o apoio das seitas evangélicas que, aqui tal como no Brasil de Bolsonaro, decidiram apostar num indivíduo que lhes trará o Maná ( ou melhor, mais Maná…). Mas a Igreja Católica?
Aparecem agora nas redes sociais duas mensagens, uma do Cardeal António Marto outra do Cardeal Tolentino de Mendonça. Ambos são homens esclarecidos. Todavia, num mundo onde a mentira se impõe, temos dúvidas da coragem dos citados em assumir uma posição de inequívoca e clara condenação deste uso abusivo de valores cristãos. Por isso e até confirmação, podem ser montagens e “fake news”.
Entretanto, foi com muita e profunda emoção que vimos pela televisão, no jantar de apoio ao líder do Chega, ontem em Viseu, uma quantidade apreciável de ilustres militantes do CDS-PP, alguns até com responsabilidades políticas.
Penificando numa total orfandade, eis que se lhes terá feito luz (divina?) e acharam, enfim, um partido político mais consentâneo com os seus ideais ultra-cristãos que, e até aqui, não tinham vislumbrado no espectro político nacional.
Há males que vêm por bem. A extinção local do partido da democracia cristã deu-lhes o milagre, o ensejo e a oportunidade de, finalmente, abraçarem o reacionarismo que há muito escondiam, agora só tapado com as máscaras do outro vírus.