Nove meses após ser eleito Ruas começa a dizer ao que veio

... levando Fernando Ruas avante esta privatização das águas, se e quando ela se repercutir na factura mensal dos munícipes dos concelhos de Viseu, Sátão, Penalva, Mangualde e Nelas, cá estaremos para ajuizar do acto autocrático deste autarca nesta matéria por demais sensível e que entrará – de “fininho” e a doer – nos bolsos dos munícipes dos cinco concelhos.

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    • 11:00 | Sábado, 11 de Junho de 2022
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    Os nove meses são um número bem simbólico. O tempo da gestação. O tempo de dar à luz.

    Fernando Ruas começa agora a pôr cá fora as ideias que nunca defendeu no seu programa eleitoral, as ideias que nunca deu a conhecer ao eleitorado que, e a assim ser, o poderá ter elegido por engano.

    É o caso das águas cuja exploração Ruas quer agora a todo o custo entregar aos privados, mais concretamente à empresa Águas do Douro e Paiva.

    Depois de todas as polémicas nesta matéria, após o consenso entre as autarquias servidas pela barragem de Fagilde, Viseu, Penalva do Castelo, Sátão, Mangualde e Nelas para a construção de uma nova barragem alternativa aquela, depois de vultuosos investimentos feitos, Ruas vem agora deitar para o lixo esta hipótese, “deslumbrado” que parece estar com a vinda dos privados.


    Ninguém ignora o que se passa, em geral, quando a exploração das águas cai nas mãos dos privados. Basta ir a concelhos aqui perto, como o de Tondela, onde até foi criado um movimento de utentes de dinâmico protesto contra esta realidade, face aos preços praticados.

    Esta controvérsia faz-me lembrar uma rábula passada com um aguadeiro galego, em Lisboa, no século XIX, que referia numa missiva escrita a seus familiares na Galiza: “Os portugueses são muito boa gente. Até me compram a água que é deles!”

    Neste processo, dos quatro autarcas para além de Ruas, havê-los-à que acorrem ao assobio do “chefe”. Outros não o farão, fractura que será irrelevante para a decisão do edil viseense, detentor de uma cota hídrica superior, que lhe concede o estatuto de “dono disto tudo”.

    Lembramos os engasgamentos de Ruas, na campanha eleitoral, quando confrontado com esta matéria, no decurso do debate que ocorreu na quinta da Cruz, evidenciando parcas ideias sobre esta matéria. Veja aqui, se tiver paciência…

    https://portocanal.sapo.pt/um_video/FAazosg6K2UZ1pJW7clo

    Talvez também este estudo feito em 2015 pela jornalista Ana Suspiro nos ajude a pensar e a avaliar os argumentos de Ruas…

    O que vai acontecer ao preço da água? O mapa dos aumentos e descidas

    Sobre o assunto, vale ainda a pena ouvir o então ministro do Ambiente e Energia, Jorge Moreira da Silva, que até é correligionário do autarca de Viseu:

    “É evidente que no interior existem custos superiores ao litoral, não só porque a infra-estruturação é mais cara como existe um número de clientes para as infraestruturas inferior. É fácil gerir alguns sistemas no litoral, difícil mesmo é conseguir compatibilizar os ganhos de eficiência com a coesão territorial. Julgo que esta fusão é tudo menos popular. Não tenho ilusões. Há uma larguíssima maioria da população que enfrentará aumentos nas tarifas…”

    Sobre a matéria, o jornalista Nuno Robalo escrevia então sobre as águas da Junta Metropolitana do Porto…

    “Ainda não há entendimento quanto ao aumento da tarifa da água da Águas do Douro e Paiva (AdDP). A empresa quer um aumento de 8%, mas os autarcas, através da Junta Metropolitana do Porto (JMP), dizem que ele só é aceitável se se situar ao nível da inflação, ou seja 2,1%.”

    Leia aqui…

    https://www.dn.pt/arquivo/2007/aumento-da-agua-divide-empresa-e-municipios-989962.html

     

    Em suma, levando Fernando Ruas avante esta privatização das águas, se e quando ela se repercutir na factura mensal dos munícipes dos concelhos de Viseu, Sátão, Penalva, Mangualde e Nelas, cá estaremos para ajuizar do acto autocrático deste autarca nesta matéria por demais sensível e que entrará – de “fininho” e a doer – nos bolsos dos munícipes dos cinco concelhos.

    E reiteramos este princípio: Os autarcas não deveriam ter a legitimidade de impor medidas tão fracturantes como esta se, durante a campanha eleitoral não as tivessem comunicado aos eleitores.

    É uma espécie de acto para o qual nos é difícil encontrar qualificação: eventual logro, possível oportunismo eleitoral, provável cobardia política. O leitor que escolha…

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