Município de Viseu cuida dos seus mortos

É de louvar a atitude e o zelo. Também aqui se pode ler transversalmente, numa relação de efeito e causa, um envelhecimento crescente da população do concelho.

Tópico(s) Artigo

  • 21:46 | Quinta-feira, 12 de Março de 2020
  • Ler em 2 minutos
Frères humains, qui après nous vivez,
N’ayez les cœurs contre nous endurcis,
Car, si pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tôt de vous mercis.
François Villon – Balada dos Enforcados

Na provada incapacidade de melhorar a qualidade de vida dos munícipes – dos vivos, acrescente-se – Almeida Henriques aposta nos falecidos. E a louvável prova disso está na recente nota camarária que informa ter o município viseense investido (?) “3 milhões de euros em obras de adaptação e/ou construção de cemitérios no concelho, procurando dar resposta às necessidades da comunidade.”

É de louvar a atitude e o zelo. Também aqui se pode ler transversalmente, numa relação de efeito e causa, um envelhecimento crescente da população do concelho e por contrapartida, um preocupante recuo demográfico, com a saída dos mais jovens em busca de condignas oportunidades para concelhos com mais oferta de emprego e melhores condições salariais, pois neste domínio, Viseu já está atrás de Oliveira de Frades, Mangualde, Tondela e Nelas.

Sobre este assunto, leia o clarividente artigo do economista Alexandre Azevedo Pinto.


Foi assim que esta semana coube a vez ao cemitério de Silgueiros, cuja ampliação foi alvo de um “investimento global que ascende a 478 mil euros”, ficando a obra a cargo da empresa vencedora do concurso público, Almeida Cabral, Lda.

Numa política de prioridades de investimento, Viseu, ciente da realidade que tem, investe na ampliação dos cemitérios. Viseu cuida dos já “partidos” e dos que irão partir, pela inexorabilidade e efemeridade da existência humana. E muito bem. Enquanto munícipe fico satisfeito por ver o meu futuro acautelado.

Tenho o maior respeito pela morte e pelos nossos mortos, “mortos adiados” que todos somos. Aceito que enquanto não houver uma mudança mais abrangente da mentalidade das pessoas no tocante a encarar o “passamento” e seus rituais, eventualmente pela cremação, que será o mais que provável futuro cenário neste contexto, os cemitérios tradicionais existentes têm que dar resposta às crescentes necessidades de uma população cada vez mais envelhecida. Todavia, um investimento (?) de 3 milhões, pelo montante em causa, pelo que lhe sub e sobrejaz, merece tanto uma reflexão… quanto um louvor a Almeida Henriques.

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Editorial