Passos Coelho andou arredio do hemiciclo. Talvez na propaganda eleitoral país fora. Talvez a vender o país lá por fora.
Mas regressou — “infelizmente”, acrescentaria o Compadre Zacarias — para aquilo que apodou de “Questões de relevância política, económica e social”. Pomposo e ambicioso, porém só no título…
Com a claque 3EMES (Magalhães, Melo & Montenegro) a fazer rufar o tambor na hora certa, viu-se a braços com inúmera críticas (que bem resvalam na carapaça de sua indiferença) formuladas essencialmente por Jerónimo de Sousa, do PCP, Ferro Rodrigues, do PS e Catarina Martins, do BE.
Passos Coelho traz na cabeça uma realidade virtual, estribada numa retórica de arrogância, em substracto discursivo. Comum nas fugas para diante. A arrogância conferida pela certeza da excelência de seu papel. O de bem servir os mercados, mal vender Portugal e escandalosamente enriquecer um milhar de privilegiados.
Com a tal sobranceria defensiva, insiste “no crescimento moderado da Economia”, afirma que “a retoma do crescimento é saudável e sustentável”, que “a Economia está mais aberta”, mas foge-lhe a boca para a verdade quando refere “não ignoro que há portugueses que ainda passam sérias dificuldades”, quando aceita que “a taxa de desemprego é elevada”, embora lesto contraponha que “é cada vez menos precária”, aceitando a “desigualdade social como uma assimetria que tem de ser corrigida”, assim como dá de bom “ter aumentado o risco de pobreza mas não junto dos mais pobres” (??!!).
Na sua eloquência da contradição, de uma no cravo e duas na ferradura, ainda arranja ânimo para falar em “esperança para todos os portugueses”. Claro… quando este governo cessar funções. E quanto mais tarde, menor será a esperança.
Jerónimo de Sousa, de semblante carregado, não filigrana as palavras nem faz rodriguinhos de boca, sendo claro quando acusa: ” O senhor vem aqui fazer propaganda com os estágios”; “Diz que estamos melhor que a Grécia? Até pode dizer que estamos melhor que o Biafra. Isso consola-o?”, e afirma, contundente, “A privatização da TAP é um crime. O governo não tem um mínimo de brio patriótico.”
E Coelho não brinca com Jerónimo, mas sabe efabular com Catarina Martins, chegando mesmo a invocar “defesa de sua honra”… E Catarina Martins não o poupa, “Qual foi a redução da taxa de pobreza no país durante o seu governo? — sem resposta…e aqui tirou-o do sério, “Quando estava em causa uma venda de favor do BPN para o capital angolano, interveio, mas agora que estava em causa a defesa dos interesses dos portugueses, nada fez”, para acrescentar, “Se não sabe o que o que é um favor eu explico: Vendeu o BPN por 40 milhões de euros, por tostões, ao BIC e ficou com todo o crédito mal parado no Estado. É provavelmente o único banco do mundo sem crédito mal parado, porque são os contribuintes que o estão a pagar. Foi uma venda de favor!”, rematou contundente.
Por seu turno, Ferro Rodrigues disparou, “Há estagnação em vez de crescimento da Economia”, “os estágios são precariedade laboral”, “o seu governo tem o recorde de orçamentos rectificativos”, “A TAP éuma questão de soberania nacional” e “o seu discurso é neo-populista”.
Parcelas somadas e com a ode cantada a par, ou paródia dos 3EMEs, Coelho foge para diante, não reconhece erros nem falhas e parece viver, não em Massamá mas em Marte.
Esta rábula de um país em crescimento, de melhoria da qualidade de vida e da esperança dos portugueses, acaba por bater certa num ponto: Coelho não fala em tempo/datas, não diz quando… e o Compadre Zacarias acrescenta: “nesse dia distante, no Além, até mando pôr uma cruz nova sobre a minha campa…”