Partilho a ideia de que o livro (liber/libri) é um elemento propiciador de liberdade.
Através dele alargamos horizontes, viajamos, enriquecemo-nos intelectual e culturalmente, potenciamos a nossa escrita e contribuímos muito para a interpretação e ampliação do imaginário, do real e do ficcional.
A leitura é uma das formas mais acessíveis de fruição da estética ou de estéticas. Através dos séculos o livro foi prazer e foi arma. O livro foi frequentemente visto como inimigo, nomeadamente nos regimes despóticos – e até pela própria Inquisição – que via nele, enquanto factor de conhecimento, um elemento de libertação, logo de subversão.
Recordo uma frase paradigmática de um antigo administrador do concelho vizinho do Sátão proferida pelo “Doutor da Meã” (advogado) para o meu avô Hilário, na altura presidente da autarquia local: “Ó Hilário, cuidado, se lhes construímos escolas e se os ensinamos a ler ficam a saber tanto como nós e nunca mais fazemos nada deles...” Era a política do atavismo a criar raízes.
Os primeiros livros, feitos em argila, na Suméria, apareceram há mais de 5 mil anos e foram quase todos destruídos. A partir daí, a história da destruição dos livros perpetua-se até à actualidade e desde muito antes da destruição da Biblioteca de Alexandria até às purgas do Santo Ofício, travou-se pelo mundo uma longa e esforçada batalha contra os livros.
(Manuscrito de Aquilino Ribeiro)
A Guerra Civil espanhola, por exemplo, quantos milhões de livros destruiu? E o bibliocausto nazi? E na China? E na Rússia de Estaline? E o livricídio sérvio? E a Censura, essa outra forma de destruição do livro, movida pelo pavor da escrita? E o terrorismo contra as bibliotecas, pelos radicais cridas como fontes irradiadoras do mal?
Pessoalmente sou cultor da leitura desde tenra idade. Usufruí da sorte de ter livros em casa e de receber livros como presente desde muito cedo. O livro nunca se afastou de mim, nunca me desiludiu, nunca me enganou ou traiu.
Ainda guardo com orgulho alguns dos meus primeiros livros recebidos na década de 60. Que li e reli infindas vezes com um encanto sempre renovado.
Pessoal e futuramente, o meu humilde legado serão os milhares de livros que anos afora fui comprando. O que de novo sai e o que de antigo procuro, incessantemente, por alfarrabistas e livreiros. A bibliofilia é isto: o amor pelos livros…
Em muitas intervenções públicas que fiz para diversificados públicos e acerca deste ou daquele escritor, desta obra ou daquela, deixei sempre o apelo: A melhor homenagem feita a um autor é ler. Ler os seus livros e através deles aceder ao seu mundo, a todas as histórias do mundo, seja em que continente for, seja em que época for, no cultivo da mais abrangente diversidade.
Ler é saber.