Por uma das últimas crónicas do meu estimado amigo Rebelo Marinho, fiquei a saber que o número médio anual de jovens licenciados que emigram é de 120.000.
Leia aqui:
https://www.ruadireita.pt/opiniao/a-emigracao-qualificada-47369.html
Em sentido mais lato, com base em dados do INE e do Observatório da Emigração, saíram 846.287 portugueses entre 2011 e 2018. Hoje já há muito está ultrapassado o milhão, num país de dez milhões. Um décimo da nossa população.
Os jovens licenciados que debandaram de Portugal foram em busca de realização profissional a par de salários atrativos e compatíveis com a sua formação académica e com as suas legítimas expectativas pessoais.
Este número é deveras assustador, como assustadora é a realidade que gera tal efeito de exportação daquilo que temos de melhor, a juventude e a mão-de-obra qualificada, que na sua maioria não regressará à ingrata e avara Pátria.
Em contrapartida, importamos um número inquantificado de mão-de-obra desqualificada, aquela que, oriunda de países mais pobres que o nosso, se sujeita à exploração indigna, às péssimas condições de trabalho e aos salários miseráveis que vem usufruir, trazida pelos novos “negreiros” do século XXI.
Há dias, uma qualquer luminária do Ministério da Defesa, a propósito da falta de militares nas Forças Armadas, sugeriu importá-los de outros países. Podiam começar pelos mercenários do grupo Wagner, que agora estarão disponíveis…
Há falta de médicos. Não faz mal, importam-se de Cuba.
Há falta de 3.000 professores (número a crescer…). Não faz mal, importam-se do Brasil ou da Galiza, na vizinha Espanha.
E se, por acaso, como se fosse um conto maravilhoso, os jovens portugueses começassem a ter salários suficientemente dignos para fazerem face à brutal carestia do custo de vida?
Se tivessem perspectivas atraentes de carreiras, nas quais o mérito seria reconhecido, apreciado e adequadamente recompensado?
E se esses mesmos jovens conseguissem alugar uma casa para viver nas cidades onde há melhores perspectivas de empregabilidade?
E nestas condições que estabilidade se lhes oferece para poderem constituir família, terem filhos e contribuírem, assim, para estancar o brutal recuo demográfico?
Toda esta acabrunhante realidade que as políticas neoliberais tanto acalentam, a par dos bem acolhidos especuladores que veem em Portugal um eficaz “cinq-à-sec”, provoca uma profunda ferida social de consequências ainda não totalmente contabilizadas, mas decerto profundamente negativa para o futuro do país e dos portugueses.
E já agora, uma nota irónica: os países que acolhem a nossa mão-de-obra jovem e altamente qualificada, que não investiram um cêntimo na formação desta elite técnica e executiva, poupando milhares de milhões aos erários dos seus países, irão indemnizar Portugal pelo que não gastaram, ou estarão apenas a rir-se dos atarantados políticos e das enviesadas políticas cá do burgo?