É natural que os actos de gestão autárquica obedeçam a lógicas que transcendem o comum dos mortais, entre os quais me incluo.
Daí a minha natural perplexidade, enquanto munícipe e cidadão ao ver grandes murais pictóricos – a dita “street art” – de grande envergadura e qualidade a serem paulatina e sucessivamente apagados.
Se, por exemplo, os prédios do Bairro da Balsa tinham agendado a sua reparação/restauração mural, porque neles pintar, uns meses antes, enormes paredes de topo com imponentes “obras de arte de rua”?
Afinal, qual a lógica desta política do fazer e desfazer?
Faz-me lembrar um amigo meu, ex-autarca de um concelho próximo a quem um dia perguntei como decorria a acção do seu sucessor, na resposta às promessas eleitorais. “À segunda-feira põe calçada. À terça-feira arranca a calçada…”, respondeu-me. E ficou tudo dito.
Será que com a CMV se passa o mesmo, neste pintar e “despintar” das paredes de alguns edifícios da cidade?
Qual a reação dos artistas à eliminação da sua obra?
Por analogia, ocorre-me a destruição do Mercado 2 de Maio, do consagrado arquitecto Álvaro Siza Vieira. Mas sobre ela já as vozes discordantes se deram ao mutismo… como também os milhões que custarão se tornaram um mero “fait divers”.
Sinais dos tempos, nos quais, a indignação pública tem prazo e raramente se estende a mais de 30 dias… E eles sabem-no, por isso, cientes desse factor, com a desmemória contam para a mensal apaziguação do rebanho.