Guerras frescas e guerras ressessas

Em termos mediáticos, com toda a frieza, é uma guerra ressessa, uma guerra que já não está fresca, já não desperta emoções e reações, que esgotou as novidades e os seus horrores, trivializando-se, banalizando-se, tornando-se um “fait-divers” desinteressante.

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  • 20:04 | Quinta-feira, 02 de Novembro de 2023
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Uma guerra é sempre algo de apocalíptico, e em maior ou menor grau, representa sempre o falhanço do diálogo, da diplomacia e a negação do bom senso e do respeito pelo(s) outro)s).

A guerra desencadeada a 7 de Outubro pelo Hamas contra civis israelitas e contra o Estado de Israel é algo de profundamente repugnante à luz dos princípios democráticos em que vivemos e nos quais fomos educados.

A resposta de Israel e a aniquilação de civis inocentes usados como escudos humanos pelo Hamas, na sua imparável violência e crueza, deixa qualquer decente ser humano horrorizado.


Entretanto, os “mass media”, árbitros e decisores de grande parte dos conflitos, que se alimentam insaciavelmente da novidade, desinteressaram-se da “operação militar especial”, eufemismo infeliz de invasão bárbara de um Estado soberano, da Rússia sobre a Ucrânia, que teve início a 24 de Fevereiro de 2022, ou seja, não tarda há dois anos.

Em termos mediáticos, com toda a frieza, é uma guerra ressessa, uma guerra que já não está fresca, já não desperta emoções e reações, que esgotou as novidades e os seus horrores, trivializando-se, banalizando-se, tornando-se um “fait-divers” desinteressante.

É evidente que esta catalogação entre fresca e ressessa, interessante e desinteressante, é um perfeito absurdo à luz do politicamente correto. Mas que existe afinal de politicamente correto numa guerra, por maiores que sejam as invocadas razões dos agressores e dos agredidos?

Se ao “desinteresse” juntarmos a eclosão de mais este conflito israelo-palestino, fresquíssimo e pleno de bilateral barbaridade, percebemos também quanto “ganha” colateralmente com ele o tovarich Putin, que de súbito deixou de ser o foco mediático mundial pela pior das razões, dando-se até ao desplante, no entreato, de vir agora afirmar-se preocupado e solidário com o número de vítimas feitas por Israel.

Este mundo global tornou-se um espelho sinistro e polifacetado que reflete perspectivas e visões estranhamente deformadas da Verdade. Mas, de facto, a Verdade ainda existirá na atualidade? Ou a Verdade é aquilo que os todo-poderosos nos impingem a seu bel-gosto, quotidianamente e segundo os seus mais pérfidos intentos?

 

(Imagens DR)

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Publicado em Editorial