Geopolítica da fome

Um mero exemplo e, talvez, um dos mais cruéis, de 1991 a 2002 o cabo Foday Sankoh, criador da Rebel United Front (RUF), na Serra Leoa, para atingir os seus objectivos terroristas através da fome, mandava cortar à catanada as mãos dos camponeses para os impedir de cultivar seus campos agrícolas.

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  • 11:53 | Segunda-feira, 25 de Julho de 2022
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A fome serviu no passado e serve hoje como poderosa arma política para, com o auxílio das mortíferas e destruidoras armas de guerra, atingir os objectivos dos países beligerantes na invasão de outros países e na insaciável expansão das suas fronteiras.

Um mero exemplo e, talvez, um dos mais cruéis, de 1991 a 2002 o cabo Foday Sankoh, criador da Rebel United Front (RUF), na Serra Leoa, para atingir os seus objectivos terroristas através da fome, mandava cortar à catanada as mãos dos camponeses para os impedir de cultivar seus campos agrícolas.

“Um dos mais notáveis factos da terrível história da fome é o de nunca ter havido fome grave em nenhum país dotado de uma forma democrática de governo e com uma imprensa relativamente livre.” (1)


Putin sequestrou milhões de toneladas de cereais da Ucrânia. Fê-lo para chantagear, tirar dividendos económicos, políticos e marciais. Com este saque acentuou a sua geopolítica da fome no 3º mundo.  Um mundo onde, anualmente morrem mais de 30 milhões de habitantes à fome, aqueles que não conseguem obter o mínimo de 2.700 calorias para sobreviver.

Este acto terrorista de Putin, a juntar ao amplo conjunto de acções que vem perpetrando de 24 de Fevereiro ao dia de hoje, insere-se no âmbito da sua traiçoeira e letal invasão da Ucrânia, alargando agora e assim a sua desumanidade aos inocentes mais fragilizados do planeta.

Putin, depois do seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, ter assinado em seu nome, com o ministro das Infraestruturas ucraniano Oleksandr Kubrakov, em Istambul, perante o secretário-geral da ONU, António Guterres e o presidente turco Tayyip Erdogan, o acordo de quatro meses para desbloquear a exportação de cereais retidos nos portos do país invadido, não esperou 24 horas para bombardear brutalmente o porto de Odessa, reiterando assim não ser fiável e confiável, antes traiçoeiro e vil embusteiro.

Mas mostrou mais, que se está “nas tintas” para a ONU e para a Turquia, mediadores esforçados deste interminável conflito, assim como lhe são barbaramente indiferentes as crescentes vítimas do seu criminoso imperialismo expansionista.

 

(1) Sen, Amartya – Prémio Nobel da Economia. In El País, 16 out. 1998

 

(Fotos DR)

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Publicado em Editorial