Uma rua, a Broadway;
Três cidades: Barcelona, Florença e Bordéus;
Dois países: Islândia e Suíça…
… Ou seja, a última campanha publicitária que os “aladinos” do Tó Almeida congeminaram tem tanto de hilariante, como de patético, quanto de dispendioso.
Na separata da revista “Evasões”, são seis as páginas integrais a cores, página da direita, que o munícipe vai pagar – e caro – com os seus impostos, as suas contribuições, seus IUCs, seus IMIs, suas derramas, and so on (escrevo em inglês porque a “coisa” é very international).
A todas as opções contrapõe este belo naco de criativa prosa:
“Podia ser o destino típico para o turista típico. Só que Viseu é outra coisa. É aqui que as raízes do Renascimento em Portugal se encontram com a street art. Que conhecemos uma feira com mais de 600 anos de tradição e uma agenda cultural que é um espectáculo. Que provamos vinhos e sabores que são cá da terra e são de outro mundo. Não é preciso irmos mais longe para termos uma experiência inesquecível. Vamos a Viseu?”
Diga lá o leitor que este pitéu descritivo não é digno de queirosiana, camiliana ou aquiliniana pena?
A raiz do Renascimento enleada na street art… Cultura a rodos… Vinhos a tonel e pacote… Sabores do outro mundo – o tal lado esotérico da IURD – a experiência inesquecível…
Escolhem uma rua, a Broadway, que e na Wikipédia, tem esta incipiente descrição:
Broadway, via larga em inglês, é uma avenida da cidade de Nova Iorque, Estados Unidos que atravessa o condado de Manhattan e do Bronx. A Broadway é muito famosa pelos seus teatros que exibem superproduções de musicais, que muitas vezes ficam em cartaz durante vários anos. Atravessa a Times Square e é ponto de referência para 43 teatros que conformam o Circuito Broadway.
Destacam três cidades, Barcelona, Florença e Bordéus…
Selecionam dois países, a Islândia e a Suíça…
A todas opções contrapõem com a arrogância, parolismo, chico-espertismo, deslumbramento e tosco humor, o taxativo “NÃO!”, “não vou por aí“, como escreveria José Régio…o globe-trotter deve optar por Viseu, assistir a um show no Mirita Casimiro ou no Teatro Viriato, passear pelas quelhas sujas e arruinadas do Centro Histórico, beber uns canadões de briol no Zé da Europa ou no mercado 2 de Maio, saborear um bacalhau com grão na Tia Iva, do islandês, ou umas iscas de fígado de cebolada na pensão Viriato, ir à feira – se não calhar a de S. Mateus pode ser a semanal, onde a “movida obnubila quaisquer ramblas”– e esquecer-se de toda a arte florentina renascentista, dos fins vins de Bordeaux – que xarope!, apreciar os grafiti que estão por beco, pilar ou quelho, ir à Casa dos Queijos (acho que também já fechou…) comer o lácteo produto dado pelas churras mondegueiras e feito por mãos de fada na Rua da Boa Morte, talvez, qual Suíça qual carapuça! e… fruir… esse superlativo do prazer só dado aos sibaritas deste Rossio, em haustos fundos, o sugestivo delírio, ficcional, esgalhado pelos lados criativos, quem sabe? da Prebenda ou da rua do Chão do Mestre.
Ó Tó Almeida, meu caro, somos todos uns parvos, não somos? E vossa mercê muito goza com o pagode, seu “malandreco”…
E o Zé a inchar…