Eu não gostaria de saber que dados meus, por mim fornecidos ao abrigo da confiança institucional, como activista e num contexto de manifestação, eram fornecidos àqueles contra os quais exercia o meu democrático direito de contestação.
Num país onde a democracia funciona há plena confiança no procedimento institucional.
A Câmara de Lisboa a quem requeiro o direito de me manifestar solicita-me os meus dados pessoais. Ciente de que estou a lidar com uma entidade de bem, na minha boa-fé, forneço-lhes sem quaisquer peias ou entraves.
É absolutamente impensável que, no caso, a Câmara de Lisboa passe essa informação pessoal à Embaixada de Moscovo. No fundo, metendo a raposa no galinheiro. Ademais ninguém hoje ignorando que a Rússia tem pouco ou nenhum respeito pelos seus oponentes, que persegue, prende e… sabe-se lá que mais.
Que Fernando Medina venha pedir públicas desculpas na assunção do “lapso”, minimiza-o, mas não o desagrava. Que esse “lapso” possa existir mostra uma falha imperdoável, grosseira e perigosa no funcionamento dos serviços que o cometeram. O comprometimento do apuramento de responsabilidades por parte de Fernando Medina, que ignoraria o procedimento, já é um passo dado para obviar a futuros atropelos. Mas não chega, pois destaca a negligência e incúria de serviços que deveriam ser responsáveis em matérias tão sensíveis quanto estas.
Isto aconteceu num país que um dos três activistas em causa apodou do “mais seguro do mundo”. Seguro e generoso, até nos exílios políticos que proporciona aos dissidentes de universos onde os direitos humanos e a democracia são palavras vãs.