Este país não é para jovens

Nesta dualidade dos nossos que saem e daqueles que o governo quer receber, há algo de estranho. Porque não criar as condições salariais adequadas para que os jovens portugueses não saiam em busca do que não encontram cá? Porque partem eles? Porque segundo um dos jovens entrevistados, permanecer por cá, “é saber que teremos sem dúvida um emprego que não será nem estável nem bem remunerado e que mais nos permitirá sobreviver do que viver…”

Tópico(s) Artigo

  • 11:46 | Quinta-feira, 06 de Junho de 2024
  • Ler em 2 minutos

O jornal francês Le Monde de hoje traz um artigo da jornalista Sandrine Morel, enviada especial ao nosso país, com o título “A amargura dos jovens Portugueses face ao dilema da emigração” e com o subtítulo “Na ausência de perspectivas para os licenciados, muitos optam por um início de carreira no estrangeiro, apesar da sua ligação ao seu país”.

Entretanto, por cá, o “Plano de Ação para as Migrações”, apresentado por Luís Montenegro, entre outras ideias, preconiza, com agrado, a de abrir as portas de Portugal a imigrantes com qualificações superiores.

Nesta dualidade dos nossos que saem e daqueles que o governo quer receber, há algo de estranho. Porque não criar as condições salariais adequadas para que os jovens portugueses não saiam em busca do que não encontram cá? Porque partem eles? Porque segundo um dos jovens entrevistados, permanecer por cá, “é saber que teremos sem dúvida um emprego que não será nem estável nem bem remunerado e que mais nos permitirá sobreviver do que viver…


Outro jovem confessa: “Tenho um primo que partiu para trabalhar em turismo, na Suécia e outro em Londres numa financeira. Um dos meus amigos é consultor em Munique, um outro é engenheiro informático em Zurique: ganha 4 000 euros por mês, enquanto que cá não ganharia mais de 1 500 euros.

E aqui reside a essência da questão: salários baixos não fixam os jovens diplomados perante aquilo que podem ganhar lá fora. Mesmo amando o seu país, as suas famílias e amigos, o poder da sedução é mais forte assim como o desafio atraente de conhecer novos países, novas gentes, novas realidades sociais e profissionais. Mas, fulcralmente, o cerne da questão está nos salários baixos que as empresas portuguesas pagam… o novo plano apresentado pela AD vendo com bom grado receber imigrantes qualificados oriundos de países onde grassa o desemprego, os salários são mais baixos do que em Portugal e a paz social é uma miragem.

Ou seja, segundo a jornalista “perto de 2,1 milhões de pessoas nascidas em Portugal vivem fora do país, dos quais 1,5 milhões deixaram o país nos últimos vinte anos, ou seja 15% da população segundo as estimativas do Observatório da emigração.” Ainda segundo Sandrine Morel, estes  “números fazem da pequena república ibérica o país com a maior taxa de emigração na Europa e o oitavo no mundo.”

Outra questão para a extrema direita local, que tanto diaboliza os imigrantes: E que tal se os nossos emigrantes fossem tratados da mesma forma?

Enquanto as empresas privadas e a máquina da administração pública portuguesa não encararem este problema com outra perspectiva que não a dos salários baixos para lucros altos, o problema não tem solução.

E assim, quem pode recriminar aqueles que partem? Os quais, em geral, acabam por constituir família nos países que os acolheram e perdem, completamente, a ideia de regressar ao seu país, a não ser para as duas semanas de férias em Julho ou Agosto e, qualquer dia, com o encarecimento do turismo local, nem esses quinze dias virão, pois é mais fácil e mais barato, irem os seus pais passar com eles férias menos onerosas num país diferente e novo…

Tenho o sentimento de que o país não é para nós”, confessa com amargura um engenheiro de 30 anos a viver em casa dos seus pais, porque não consegue comprar ou alugar casa própria…

 

Nota: Tradução do editor.

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Editorial