A televisão cada vez nos oferece mais canais e, todavia, não nos oferece mais atributos nem mais diferença.
Nos tempos que correm, a necessidade de informar, por excesso e diferença, repetitivamente com conteúdos de há três dias, de há dois dias, do dia anterior, repetidos à exaustão, fizeram da caixa mágica um papagaio falante, parco de novidade e ainda mais de qualidade, só apostada na quantidade.
Dos canais especificamente dedicados a escarafunchar na desgraça humana, dos crimes aos acidentes, onde jornalistas se veem obrigados ao recitativo psitacista nauseante, até aos canais públicos, a tentarem dar uma no cravo e outra na ferradura para manterem as audiências, a pobreza é franciscana.
Quem ignora que este excesso de ruído nos azoa e nos inviabiliza a captação do essencial, do substantivo, perdidos e insensíveis no lodaçal adjectivo da vulgaridade?
Quem ignora que num mundo onde há centenas de milhões de corruptos, não o ser é quase ofensivo, e sê-lo ou ser vigarista e ladrão é hoje tão comum que se perdeu o anátema e o opróbrio da mácula? E de onde vem esta vulgarização? Da repetição até à saciedade…
E que a informação, naufragada nos sargaços do blá-blá, perde a sua essência fundamental, tornando-se num mero”match” de mercado a difundir “ópio ao povo”, a troco do “share” que o CEO venera?
Raras são as excepções, mas existem. Embora algumas, porque incómodas e geradoras de urticária, tivessem os dias contados, como o “Sexta às 9”, da Sandra Felgueiras.