E um manguito?

Neste país de descontentes, de necessitados, de especuladores e de opositores a tudo e ao seu contrário, ouve-se o coro das crónicas carpideiras a lamuriar-se que é pouco, que é nada, que mais valia estarem quedos… vêm os produtores e lastimam-se, vêm os intermediários e gemem, vêm as grandes superfícies e pranteiam-se...

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  • 11:03 | Terça-feira, 28 de Março de 2023
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A 24 de Março deste ano, o Governo apresentou um pacote de “medidas de resposta ao aumento do custo de vida” no montante de 2,5 mil milhões de apoios adicionais. O que não é seguramente uma bagatela.

A redução do IVA dos bens alimentares essenciais com 410 ME, o apoio à produção agrícola com 140 ME, o reforço do subsídio de refeição com 250 ME, o aumento extraordinário dos trabalhadores das AP com 195 ME, o apoio às famílias mais vulneráveis com 580 ME, mais habitação e outras medidas com 900 ME…

Neste país de descontentes, de necessitados, de especuladores e de opositores a tudo e ao seu contrário, ouve-se o coro das crónicas carpideiras a lamuriar-se que é pouco, que é nada, que mais valia estarem quedos… vêm os produtores e lastimam-se, vêm os intermediários e gemem, vêm as grandes superfícies e pranteiam-se, vem o povo e exausto de ouvir lástimas, gemidos e prantos, encolhe sofrido os esquálidos ombros e, como o Zé Povo do Bordalo, faz um expressivo manguito e volta costas às rogadas pranteadeiras, coçando o cotão dos bolsos e apertando mais um furo no cinto, ciente de que assim tem de ser para os obesos mais um alargarem.


 

 

No parlamento, a direita arrepela-se, o centro deprecia, a esquerda arrepia-se. No fundo, cumprem o guião para justificar a sua seráfica e democrática existência e o estarem ali, ansiosos por verem a contestação nas ruas, a desdita no viver, a comiseração no quotidiano.

Contritos, condoídos, ao lado do povo (dizem eles…) açulam a contristação e acenam com a felícia do vota em mim que sou a solução.

Aliás, esta semana, em Israel e na França, Netanyahu e Macron, foram dois dos inúmeros arautos do fortúnio que mostraram ao que vinham, o que queriam, a quem serviam…

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Publicado em Editorial