De facto esta gente não tem ponta de vergonha. Vive num mundo com uma realidade construída ao jeito e à medida das suas falácias. Digere-as como verdadeiras e depois, numa arrogância a roçar a provocação, vomita-as com o fastio dos inocentes.
Não sou muito telespectador. Às baboseiras que passam ininterruptamente nos écrans, com a alarvidade adequada ao aumento das audiências, prefiro o recolhimento de um livro por mim seleccionado, a audição de uma música por mim escolhida e, uma vez ao dia, a leitura mais ou menos diagonal de alguma imprensa nacional e três diários estrangeiros. Tudo no on-line, obviamente, que a imprensa escrita tem os dias contados.
E nesta minha atitude, talvez a nível do inconsciente, há um resguardo, reside uma prudente atitude de auto defesa.
Porém, hoje desacautelei-me e apanhei com um noticiário onde um “rapazola” com ar de “arruaceiro intelectual”, do partido governante, sotaque da gente boa do Norte e nome de imperador romano, desaforado e convicto – o pior e menos inocentes dos impudentes – afirmava, com a certeza dos senhorios do paraíso que “a taxação sobre taxação nos vencimentos dos funcionários públicos obedecia a um pressuposto de justiça social…”
Tive vontade de lhe mandar com o “comando” à cabeça. Resisti ao primário impulso por 5 básicos motivos:
– Estragava a televisão;
– Partia o comando;
– Não acertava no destinatário;
– Não se atiram “comandos” às cabeças de políticos (a contundência é duvidosa);
– A violência virtual nada resolve face à violência real destes políticos da malfeitoria.
Desliguei o aparelho. Fui para a cama a chupar um antiácido e a desejar que o tempo se escoe lesto para chegar depressa às próximas legislativas.
Essa é a atitude. Esse é o melhor “comando” que se lhes pode enfiar pelas goelas inchadas abaixo.