Relendo o “poeta maldito”, Sebastião Alba e alguns dos seus fragmentos em prosa publicados pela “quasi” em “Ventos da minha alma” (2006), destaquei de entre centenas deles três frases que mais me “tocaram”.
A saber…
“É preciso desmascarar quem nos torna infelizes”. Esta asserção tem plural valimento e tanto pode ser entendida num contexto de relações afectivas privadas como o pode ser num contexto mais amplo e no domínio da praxis política.
Quando o cidadão entender que os actos púbicos do Poder Central e do Poder Local afectam, pela positiva e pela negativa, toda a nossa qualidade de vida, talvez interiorize que tem de ser atento, interventivo, exigente e punitivo – se for o caso – pelo seu voto, quer seja nas eleições autárquicas, quer seja nas legislativas. Ou vamos todos continuar a ser coniventes, cúmplices anuentes, por desinteresse, alheamento ou acriticismo de quem “nos torna infelizes”?
“As minhas faculdades não as ampliei para servir filhos da puta.” Esta ideia quase vem em complemento da anteriormente referida (sentido lato) e tem a ver fundamentalmente com a capacidade que o ser humano detém, se assim o entender, de dizer NÃO. Não, não vou por aí, e lembro, de José Régio um extracto de “O Cântico Negro”…
Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A terceira, citada por Alba, é da autoria de Pessoa: “A verdade quem é que a quer?”
Pelo que se passa mundo fora e Portugal dentro, diríamos que raros a querem e poucos a desejam.
Aliás, a verdade, num mundo complacente onde a mentira impera – Trump é disso o paradigma maior – está obsoleta e em vias de desaparecimento, no entendimento de que a maior parte dos cidadãos não a quer ouvir e prefere ser enganado com edulcoradas mentiras pelos governantes, do mundo, do país, do nosso concelho… pela recriação de uma fantástica pantomina ficcional na qual, a verdade prostituída e abusada não é mais do que o oportunismo de circunstância, ao sabor das convenientes brisas de momento.
Mau é tornarmo-nos imbecis e abúlicos comparsas dessa narrativa. Da narrativa de quem pérfida e recorrentemente nos “torna infelizes”…