“Embora o número de carneiros aumente dia a dia, nem por isso o preço da lã baixou.”
Thomas Moore, “Utopia”
As notícias que nos entram portas adentro focam-se no aumento do custo dos produtos de primeira necessidade e nos custos de produção de outros produtos, que podem atingir os 30% ou mais.
Sobem os combustíveis, sobe a energia, sobe o gás, a electricidade, o pão, a carne, o peixe, a fruta, os legumes, etc.
Mas há de facto uma dúvida que não consigo dissipar… os produtores de petróleo e as grandes petrolíferas continuam com os mesmos custos de antes. Ou não? Os produtores de electricidade também. Ou não?
Contudo, os combustíveis aumentaram em média entre 10 a 15%. E as gasolineiras que tinham os depósitos cheios, logo aproveitaram, sem custos acrescidos, a boleia do aumento para embolsarem mais uns milhares.
É o mercado liberalizado e ao Deus-dará, aquele que Durão Barroso instituiu e tanto acarinhou e sobre o qual dizia, em 2002: “a liberalização dos combustíveis irá baixar os preços”mais acrescentando, “A concorrência normalmente funciona a favor do consumidor”. Nem mais!
Pois enganou-se, pelos vistos. Ingénua ou deliberadamente. E enganou os portugueses, Durão que foi primeiro-ministro de Portugal de 2002 a 2004, para de seguida abandonar e tomar posse da presidência da Comissão Europeia de 2004 a 2014 e que em 2016 foi nomeado chairman do Banco Goldman Sachs International. Uma carreira de sucesso.
Também nas Lajes, na Cimeira, foi muito interventivo, a 16 de Março de 2003, com George W. Bush, presidente dos EUA, Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido, e o espanhol José Maria Aznar, quando se decidiu a carnificina do Iraque, a pretexto de Saddam Hussein ter armas químicas que nunca foram encontradas. Curiosamente, o que dizem Putin e Lavrov acerca da Ucrânia para, pela vil mentira, tentarem dar caução nobre à realidade perpetrada mais que tudo cínica… É a política, pá!
A Shell, a Saudi Aramco, a Petrochina, a BP e a Total são as cinco maiores empresas mundiais do sector, que obtiveram em 2021 lucros de milhares de milhões de dólares.
Os países que ganham biliões com o petróleo do qual dependemos são: a Arábia Saudita, os Estados Unidos, a Rússia, o Irão e o México, que detêm 40% da produção mundial. Os outros 60% estão com a China, o Canadá, os Emirados Árabes Unidos, a Venezuela, o Kuwait, o Brasil, a Noruega, a Nigéria, o Iraque, a Líbia, o Equador, o Cazaquistão e a Argélia.
Ou seja, 18 países de um total dos 266 existentes, menos de 7% do total mundial…
Sabemos que muitas das guerras mundiais capitaneadas pelos EUA e pela Rússia tiveram como verdadeiro objectivo o controlo do petróleo para a dominação das economias globais e favorecimento das suas empresas bandeira. O resto é a treta do costume para consumo dos incautos.
Voltando de novo atrás (isto é um rodilho sem fim) … a estas magnas companhias, qualquer pretexto serve para obter lucros. Mesmo que seja à custa da miséria das populações e das calamidades pelos vis déspotas e cleptocratas geradas.
Os países que fazem a guerra, em geral e se tudo lhes correr a preceito – o tiro saiu pela culatra no conflito Rússia / Ucrânia – obtêm colossais lucros com elas.
O preço do pão, da água, da electricidade, da fruta, da carne, do peixe… vai aumentar. Claro está que esses aumentos nunca reflectem a fria verdade dos custos para quem aumenta e para aqueles que acorrem em tropel à teta estatal. Apenas a refletem, no miserável pretexto, para os consumidores e para a população em geral. Aquela que não vê os salários a subir, antes olha conformada para o disparar dos custos e da inflação, apertando, a cada dia que passa o cinto, no qual mais furos faz para que a engorda de um punhado de nababos não tenha fim.
(Fotos DR)