Afastamo-nos das coisas naturalmente boas da vida sem disso nos apercebermos.
Esquecemo-nos de quão aprazível pode ser um plácido dia em casa, exclusivamente dedicado a nós, aos nossos gostos, aos prazeres singelos que o nosso habitat sempre sabe propiciar.
Longe ficam as praias, talvez apinhadas de gente, nestes tempos conturbados. Distante também fica a cidade, se bem que a dois passos, e a canícula que a recobre e a todos atormenta. Remotas as questiúnculas do quotidiano político-partidário, que tanto apreciaríamos removidas do nosso horizonte quotidiano.
O gratíssimo prazer de nada fazer, esse “ócio” que já foi modo de vida dos abastados da Antiguidade, ou melhor, nada fazer por obrigação ou imposição temporal.
Ouvir harmónica música. Fruir (acto nem sempre acessível) um bom livro. Escrever umas linhas por ledice. Desenhar um “bonecro” em três despretensioso tempos. Beber um café caseiro, aromático e quente ou, ao invés, um mazagrin (bebida refrescante do norte de África, consistindo em café forte, água muita fria e limão). Trincar uma bolacha amanteigada, caseira e sápida. Olhar para o horizonte distante.
E depois, sem pensar em nada durante um largo momento, voltar ao início deste peregrinação preguiçosa, mas de tão agradável e singelo sabor.
Assaz frequentemente inventamos engenhosas formas de passar o tempo. De o ajudar a fluir… ele sempre fluirá e porque não desta forma, um pouco solitária, virada para dentro, sem agitações, antes numa quietude remansada, dulcificante e apaziguadora?
O ser humano, sem ser eremita, desabituou-se desta “solidão”, preferindo, no seu gregarismo, fazer jus ao espírito da tribo e nela, com ela, através dela, viver os seus momentos de bem-estar na partilha de sensações e emoções.
Sem exageros, os tempos que correm são até bem propícios a este tipo – pontual – de retiro.
Talvez aos “velhos” (como é meu caso) seja mais fácil esta atitude e ela seja mais difícil para a exuberância natural dos mais jovens, na descoberta constante do “outro” e dos espaços onde socializar.
De acordo, La Palisse diria que há um tempo para tudo, e eu, aqui, parafraseio-o e, agora que o Nat King Cole chegou ao fim, que este livro “poesia de 26 séculos” em compulsação pessoal de Jorge de Sena (que nome tão grande e tão injustamente esquecido…) se fechou na página 274… um intervalo de pausa e recomeçar. Ou não.
Afinal o sábado já estava ganho.