Cota e o “interior nas pernas”

  “O interior está nas cabeças e nas pernas de todos os agentes. Em Portugal não existe interior”, afirma o mega-empresário patrão de todos patrões de Viseu, João Cota, em acção que promoveu para discutir o OE 2019 depois de aprovado.   António Costa e o seu governo devem estar satisfeitos, por vários motivos, sendo […]

  • 11:02 | Sexta-feira, 30 de Novembro de 2018
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“O interior está nas cabeças e nas pernas de todos os agentes. Em Portugal não existe interior”, afirma o mega-empresário patrão de todos patrões de Viseu, João Cota, em acção que promoveu para discutir o OE 2019 depois de aprovado.

 
António Costa e o seu governo devem estar satisfeitos, por vários motivos, sendo os mais relevantes, esta ajuda/discussão do Orçamento de Estado que quase estaria pendente de aprovação ou reprovação sem esta discussão a posteriori.
Outro motivo que importa destacar é o de andarem para aí grupos ditos pelo interior; ouvir-se da boca de autarcas a crítica à desatenção do governo para com o interior; ser comum referir-se a assimetria das políticas entre o litoral e o interior, geradoras da desertificação gradual deste por falta de oportunidades e investimentos nestes territórios ditos de “baixa densidade” e, afinal o vet Cota teve uma iluminação – sabe-se lá para agradar a quem! – “Em Portugal não existe interior”.
Que andam afinal os “grupelhos” a fazer, na luta pela defesa do interior que não existe? Será tudo, para Cota, uma questão de imaginação ou uma rábula mal contada, pois, enfatiza ele, “o interior está nas cabeças” – acreditamos e acrescentamos: nalgumas, pois noutras só haverá vazio.
Mas diz mais e numa metáfora de fino recorte – anda imparável desde que leu uma novela de Aquilino – “o interior está nas pernas”… Aqui, o alcance discursivo “varreu-se-me” do cérebro. Que Cota tenha o interior nas pernas, fácil é de aceitar. Ainda é um moço novo… Mas que tem o interior do país a ver com o interior das pernas?
Provavelmente, o erudito e eloquente tribuno, ao falar de pernas estaria a apelar ao seu movimento em busca de oportunidades. E aí estaria a falar do que sabe, pois toda a gente mais atenta lhe conhece o missionarismo e a quantidade de cargos que acumula, tanto políticos como empresariais, numa mistura profícua, em prol do sucesso de um interior que afinal o não o é.
António Costa agradecerá este discurso e quando os autarcas das diversas Cim’s apresentarem reclamações, pode sempre citar o mega-empresário viseense que – agora – parece ler pela cartilha do PS, posta de lado as do CDS e do PSD.
 


(Foto DR)

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Publicado em Editorial