“Contra o Colégio, armavam as doceiras; bolos, fálgaros, rebuçados em tabuleiros de que choviam rendas e badalhocas…”

Assim, o fálgaro pelo Mestre perdurado não se podia perder e sai das páginas de “A Via Sinuosa” e “Terras do Demo” para o forno comunitário da Tabosa, onde às mãos robustas, sábias e persistentes das senhoras Lúcia Correia, Angelina Pereira e Olívia Augusto...

  • 12:16 | Sexta-feira, 02 de Abril de 2021
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Os fálgaros de Tabosa do Carregal, de queijo fresco feitos, ovos de pita caseira, farinha sem fermento e uma pitada de sal, são um pitéu único e exclusivo desta aldeia serrana a jusante da Lapa, ali ricamente assentada às espaldas do Carregal, terra natal de Aquilino Gomes Ribeiro, nascido às 13 horas do dia 13 de Setembro de 1885, no calendário litúrgico, dia de S. Aquilino, que assim deu nome ao escritor. Antropónimo que lhe assentou como luva de pelica, pois vem de aquila que dá águia, a rainha dos ares, soberana nos planaltos da Nave e Lapa.

A sua confecção é estimulada pelo presidente da Junta de Freguesia do Carregal, Vítor Rebelo, cioso do seu património cultural e atentíssimo às tradições das suas terras, por Aquilino imortalizadas, entre outras no romance “Cinco Réis de Gente” (1948) e na novela “Valeroso Milagre”, saída no suplemento literário nº 68 do ABC e reaparecendo reescrita em “Estrada de Santiago”, em 1923.

Assim, o fálgaro pelo Mestre perdurado não se podia perder e sai das páginas de “A Via Sinuosa” e “Terras do Demo” para o forno comunitário da Tabosa, onde às mãos robustas, sábias e persistentes das senhoras Lúcia Correia, Angelina Pereira e Olívia Augusto, no dia de S. Brás, patrono local e na Páscoa, é amassado, acarinhado, bem preparado e levado ao forno a cozer, de onde sai para os vetustos tabuleiros em madeira de castanho da terra, e daí, num simbólico gesto fraternal e dadivoso pela autarquia feito, para todas as casas do Carregal, da Tabosa e da Aldeia de Santo Estevão, pois domingo é dia de festa, de Ressurreição, a ser brindada com uma sápida talhada de fálgaro e um cálice de vinho generoso.


 

Felizmente que há autarcas neste país sabedores, orgulhosos e cientes do seu património, que é também literário e gastronómico, como Carlos Silva, presidente do Município de Sernancelhe e a sua dinâmica equipa, na porfia de bem servir o seu concelho e as suas gentes.

Em 2017, o jornal “Público” apresentou na sua separata “Fugas” uma excelente reportagem assinada por Luís Octávio Costa (texto e vídeo), Sérgio Azenha (fotografias) e Frederico Batista (edição vídeo) que aqui partilhamos com os nossos leitores…

https://www.publico.pt/2017/11/11/fugas/reportagem/o-forno-que-pariu-um-falgaro-1791922

 

(Fotos créditos CSS)

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