Corria o ano de 2002 quando o primeiro-ministro Durão Barroso liberalizou o preço dos combustíveis. Cínico ou optimista, assim justificava a medida: “A liberalização do preço dos combustíveis até final do ano terá como efeito previsível uma descida dos preços”.
Como todos sabemos, a partir daí sucedeu uma desregulação completa do sector, com a fixação de preços sempre a disparar e a atingir, como hoje, patamares insustentáveis.
As petrolíferas esfregaram as mãos de contentamento e as gasolineiras ficaram felizes.
Nas antípodas, os milhões de utentes portugueses, cada vez que vão abastecer o veículo, ficam mais tristes, mais acabrunhados com o que veem, e sentem na já de si tão depauperada carteira.
O regabofe é tão desavergonhado que, mesmo com a descida do ISP por parte do governo – é preciso lembrar que o imposto, concordemos ou não com ele, cumpre um pressuposto social fundamental – se evidencia e constata um aumento do lucro das petrolíferas e das gasolineiras.
Talvez seja altura de retroceder na liberalização – doa aos magnos interesses que doer – e se proceda de modo a se fixarem preços e margens e se regule o mercado. A Galp e os seus accionistas não gostam? Que chatice. As gasolineiras estrebucharão? Que pena…
A Galp, à escala nacional – não falamos nos mais de 30 mil milhões de dólares de lucro da norte-americana ARMACO no 3º trimestre de 2021 – teve ganhos de 496% no lucro do 1º trimestre, atingindo os 155 milhões de euros contra os anteriores 26 milhões em igual período do ano anterior, lucro esse, segundo o presidente executivo da empresa, Andy Brown, maioritariamente oriundo do upstream (exploração e produção). Talvez sim. Talvez não.
Enfim, a pretexto da guerra e dos desmandos do russo Putin, há quem esteja a ganhar a “vidinha” como nunca a ganhou, mesmo que seja à custa do coiro e cabelo de todos nós…