… chamado Terras do Demo, cuja acção decorre entre Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, depois de ser também nome de produtos endógenos, tornou-se um símbolo de gratidão e união de municípios, além de elemento agregador e interactivo entre as serranias beiroas e as calçadas da capital.
Este centenário está a dar que falar e a provar que a provecta idade não é, de modo algum, obstáculo a uma dinâmica prodigiosa e crescente a envolver, cada vez mais, partindo de estrito núcleo, os plurais players congregados nesta causa.
1º Neste centenário de Terras do Demo homenageia-se um romance que viu prelo em 1919 e os territórios por aquele nome designados e perdurados.
2º Homenageia-se o seu autor, Aquilino Gomes Ribeiro, nascido no Carregal, registado nos Alhais e com sua propriedade familiar em Soutosa.
3º Juntam-se entidades várias, desde a Fundação Aquilino Ribeiro (FAR), às autarquias e autarcas de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva e aos autarcas de Lisboa, desde a vereadora da Cultura da CML ao presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, José António Borges, com a sua dinâmica, sapiente empenhamento cultural e entusiasmo pessoal e institucional, à Biblioteca Nacional de Portugal, ao Museu da Cidade de Lisboa… os quais muito têm feito para retribuir com gratidão ao Mestre, as páginas que ele nos legou, a sua modernidade e o elo que com as palavras soube construir e para a eternidade nos deixou.
Desta feita, após a apresentação da reedição da obra “Terras do Demo”, em Soutosa, no dia 11 de Maio, com a presença de centenas de atentos aquilinianos para ouvirem ilustres oradores, de entre os quais se destaca João Soares, deputado, ex-presidente da CML e ex-ministro da Cultura, até às exposições e colóquios que se sucederam, uns atrás dos outros, na BN, até à Exposição no Museu da Cidade de Lisboa, à mostra de Produtos das Terras do Demo trazidos ao Mercado de Alvalade pelas autarquias de Moimenta da Beira com Francisco Cardia, de Sernancelhe com Armando Mateus e de Vila Nova de Paiva com Delfina Gomes, os três devotados vereadores da cultura, seguida de descerramento de placa de homenagem na parede da última casa onde o Escritor viveu, na Rua António Ferreira, nº 7, em Alvalade, até ao grafiti da autoria de Kruella d’Enfer, no Bairro de S. Miguel, alusivo ao Romance da Raposa… tem sido um imenso conjunto de eventos a suceder-se em catadupa, neste mês de Maio, data do falecimento do homenageado, no pretérito ano de 1963.
Mas não se acaba aqui… pois no dia 27 decorre a apresentação da edição filatélica dos CTT com postal e selo comemorativo, seguido de teatro com o grupo Filandorra, no Auditório Municipal de Sernancelhe, respectivamente às 20h30 e 21h00.
No dia seguinte, 28, no Exposalão, pelas 14h00 será apresentado o livro “Havia três dias e três noites… e depois”, escrito e desenhado por alunos do Agrupamento de Escolas Pe. João Rodrigues, alusivo ao “Romance da Raposa”.
Dia 29 às 17h30, na Feira do Livro, em Lisboa, será feita uma reapresentação da edição, na Porto Editora e Bertrand Editora, que estará a cargo de Aquilino Machado, Eduardo Boavida e Paulo Neto.
Nos dias 1 e 2 de Junho, iniciativa da CMS, decorrerá a Feira Aquiliniana da Lapa.
A 14 de Junho, pelas 16h00, na biblioteca da Universidade de Aveiro, organização de Maria Eugénia Pereira , do DLC da UA e de Paulo Neto, director da revista literária “aquilino”, será inaugurada a exposição da obra completa (mais bibliografia passiva) do Escritor, subordinada ao tema: “Aquilino no Campus de Santiago”.
E apesar deste extenso rol de eventos, as iniciativas não ficam por aqui e mais novidades haverá para apresentar em tempo oportuno.
A todos quantos estão por detrás destas actividades, que sacrificam seus sábado e domingos e muitas horas do seu trabalho após o horário laboral, deixa-se o reconhecimento e gratidão. Seria exaustivo aqui enumerar nomes e, porque não se quer correr o risco de omitir algum, a TODOS um beirão bem-haja…!
No último número da revista literária da Câmara de Sernancelhe, a “aquilino”, inteiramente consagrado aos prefácios solidários, pelo Escritor lavrados em obra alheia, reencontrei estas palavras dirigidas ao seu amigo, o cónego Manuel Fonseca da Gama, autor de “Terras do Alto Paiva”, por Aquilino escritas em 1940 ”Em guisa de prólogo”, clarificadoras do título “Terras do Demo”, para além das escritas no prefácio dedicado a Malheiro Dias. Aqui as deixo:
“A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhes Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto social que não tenha algures. Nada disso. A Serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência. Só por isto.”
Paulo Neto