Almeida Henriques, o inefável e estimável autarca viseense, começou a sua operação de charme & glamour, agora que estamos a menos de um ano das eleições autárquicas, com uma epístola, não aos apóstolos, mas sim aos “estimado amigos”, os seus mais que tudo queridos munícipes.
Um repositório de lugares comuns, uma mera chapa 5 (agora já não terá o vereador Sobrado a escrever-lhe os press releases), com alguma “matreirice” à mistura, para lembrar os eleitores de que ainda anda por aí…
Há parágrafos de certeiro lirismo, como este:
“No dia de hoje, quero endereçar-lhe uma mensagem especial. Há sete anos que trabalhamos juntos, pelo que, quero agradecer todo o seu empenho e dedicação na prossecução do projeto que os Viseenses escolheram, o VISEU PRIMEIRO.”
E há outros de perfeita ficção, envolventes e oníricos:
“Os resultados atingidos não teriam sido possíveis sem o envolvimento de toda a Comunidade e, em particular desta Equipa que somos, e da qual faz parte.”
Pela minha, caro edil, grato lhe fico. Eu esforcei-me e o amigo sabe disso…
Por vezes, se não fora em prosa, quase parece estarmos a ler “Mensagem” de Fernando Pessoa, por exemplo o belíssimo poema “O Mostrengo”:
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E assim reza, delirioso e fantasioso:
E até me lembrei das árvores abatidas por essa cidade fora, do abandonado Fontelo, da selva da Aguieira, etc., etc., etc…
E finda-se neste apelo singelo e sincero, à “bonita comunidade”:
“Para além da gratidão e partilha que exprimo nesta mensagem, quero incentivá-lo(a) a continuarmos este percurso juntos e a consolidar o caminho que temos trilhado, em nome do Concelho de Viseu e de toda esta bonita comunidade.”
Pois caro amigo António Almeida Henriques, estou emocionado com a sua sensibilidade, com a sua imensa e oportuna cordialidade, com a sua retórica sempre do fundo do coração tirada, com a sua amizade e a sua gratidão.
Por tudo isto, e farto de” tretas”, ao ouvido lhe sussurro: Nunca contará com o meu voto, mas, ainda assim, em linguagem de político…
“Aceite um abraço amigo de gratidão.”