“Caritas” significava no antigo latim eclesiástico, o amor do próximo. Na teologia cristã é uma das 7 virtudes, por muitos teólogos considerada como a mais excelente das virtudes.
A caridade, ao longo dos séculos, exprimiu-se fundamentalmente pelo acto de dar, de partilhar com os mais carenciados um afecto, um alimento, uma benesse, um cuidado.
Todos nós, com maior ou menor sistematicidade, num qualquer momento das nossas vidas, exercemos a caridade. Fizemo-lo com amor, com discrição, escondendo a mão que deu e não querendo ver o rosto envergonhado de quem recebeu. Desse acto terá sempre resultado algo de elevado, nesse desprendimento solidário do doador e no acolhimento gratificado do receptor.
Nunca o leitor que já decerto tanto deu, no acto de dar, levou consigo “jornalistas” e câmaras de filmar. Ou já? Não. O leitor é um cidadão bem formado que não se engrandece pela publicitação e despudorada divulgação dos actos privados da caridade solidária que exerce. Não faz do acto de amor pelo seu semelhante mais desfavorecido, mais fragilizado, mais carente uma ostentação, um alarde, uma vanglória.
Se tal acontece, a caridade torna-se uma bazófia, uma jactância. Pior é quando, fugindo à sua essência mor, se transforma em arma de arremesso da mais cínica política. Aquela que é feita para ser filmada e divulgada nas televisões, com a seguinte mensagem liminar:
Gabamos muito o acto filantrópico e caridoso do vereador Sobrado. Mesmo podendo conjecturalmente matutar que poderá tratar-se de um acto essencialmente mediático, e a ser verdade que já “acudiram” a 200 cidadãos carenciados, perdoamos-lhe – porque é Pascoa – a vaidade exibicionista pelo bem, que apesar de tudo fez.