Ontem, num programa transmitido na RTP3, o deputado do PCP, Miguel Tiago abordou a independência… dos partidos independentes.
De facto, hoje, a proliferação de candidaturas independentes às autárquicas de 2021 é um fenómeno que não deixa de ser curioso e passível de análise.
A Lei Orgânica nº 1/2001, publicada em Diário da República n.º 188/2001, Série I-A de 2001-08-14, sobre Eleição dos titulares dos órgãos das autarquias locais legitima o aparecimento de candidaturas de “Grupos de Cidadãos Eleitores”. Estes apresentam-se aparentemente fora do espectro político partidário, assumindo a sua independência.
Ora independente é aquele que não é dependente de nada nem de ninguém, autónomo, soberano, autossuficiente, livre, desobrigado, individual, pessoal, insubmisso, rebelde, etc. Tal rol de sinónimos pode ler-se em qualquer básica net consulta.
E porém… alguma candidatura independente o é na sua plena abrangência semântica da palavra? Decerto que não. Os independentes são, em geral, cidadãos oriundos de partidos políticos nos quais, em dado momento, integraram as fileiras e depois, pelos mais variados motivos, os abandonaram (ou deles foram expulsos) e, no seu afã de “cidadania” e imbuídos do mais lato espírito de “missão”, decidiram concorrer ao poder local autónomos do leque partidário vigente.
Até podem, de repente, ao fim de décadas ao serviço de um ideário, ver a luz e descobrir que andaram enganados e, perante isso, despirem credos e doutrinas velhos e, vestindo novo fato, assumirem novas orientações. Por mero exemplo, Durão Barroso não veio do MRPP para o PSD? Zita Seabra do PCP para o PSD?
O Movimento Figueira a Primeira (FAP), a quase lembrar o PaF do PSD com o CDS, tendo como cabeça de lista Pedro Santana Lopes, ex-primeiro ministro pelo PSD, ex-secretário geral do PSD, ex-presidente da câmara municipal da Figueira da Foz pelo PSD, em 1997, é um caso de estudo, até e fazendo fé nas sondagens que lhe dão 47% das intenções de voto, muito próximo da maioria absoluta e, ao candidato oficial do PSD, Pedro Machado, 8%…
E Isaltino de Morais com o Inovar Oeiras? Dezenas de outros casos apareceram mais ou menos recentemente no panorama autárquico nacional. E o mais curioso é terem-se tornado putativos vencedores… Porque será? Serão os tradicionais partidos políticos, gastos e desacreditados, os principais responsáveis pelo fenómeno?