Admiro Baptista-Bastos. Gosto de ler as suas crónicas no DN, tenho parte dos seus vinte títulos publicados, respeito os seus oitenta anos de idade, aprecio o seu percurso de mais de cinquenta e cinco anos de jornalista.
Privou com Aquilino e dele foi amigo. Um dia, telefonei-lhe e ao falecido Urbano Tavares Rodrigues, pedindo colaboração pro bono para uma revista literária aquiliniana que coordenava ou dirigia — isso já não é importante — e a resposta foi pronta, afável e positiva.
Há gente assim…
Baptista-Bastos é desde há muito um homem de causas. Coerente, sólido e coeso nos seus princípios, ideais e postura humanista. Foi agora despedido daquele que era (ainda é?) um grande quotidiano português: o DN.
À atitude não será talvez alheia a nova entidade proprietária, a Controlinveste Conteúdos.
Talvez nem a ela sejam alheios os seus administradores, Proença de Carvalho (PCA), Vítor Ribeiro, José Carlos Lourenço, Pedro Coimbra, Rolando Oliveira, Luís Montez e Jorge Carreira. Talvez nem o seu director, André Macedo. Quem sabe? Fiquemos no que a cada um parece.
É estranho e irónico pensar que, por exemplo, “O Jornal do Fundão” criado pelo mítico António Paulouro (que tive a honra de pontualmente conhecer) e onde outrora B-B escreveu, também já é do mesmo grupo empresarial…
Hoje, há jornais que são comprados por políticos e por empresários conectados, de perto (de muito perto) ou de longe (de muito longe), com a política.
A liberdade de alguma imprensa é hoje posta em causa quando se entra em colisão com os poderes instalados. Nomeadamente, no âmbito da imprensa regional e do poder local.
Isso é perceptível quando congeminamos que, e no distrito de Viseu, há autarquias tão “colaboradoras” de certos periódicos, que quase parecem deles associadas.
Porquê? Responda o sábio leitor que decerto não pertence ao grupo dos espertalhões que fanfam fazendo passar os outros por parvos.
Centrando-me no assunto, Armando Baptista-Bastos foi despedido do DN.
Quatro conjecturais questões:
O jornalismo nacional empobreceu-se?
A liberdade de imprensa debilitou-se?
O DN descredibilizou-se?
Depois disto haverá ainda quem o consiga ler?
A última crónica. Uma crónica triste…