Sempre houve muito boa gente caridosa a lucrar com o mal dos outros. Leia-se por mera e elucidativa sugestão “A Peste”, de Camus. Aliás, o mal dos outros é o seu bem. Bem-estar económico, naturalmente. E esse bem-estar económico é precioso para quem na cupidez assesta as suas munições, por ela fazendo pródiga vida.
Estes filantropos surgem geralmente no contexto da desgraça, são humanitaristas da desdita e do desfortúnio, beneméritos de todos os tempos, usando astutos artifícios para caucionarem de pseudo nobreza o real às vezes ascoso do agir.
Assim, um modus operandi vulgar é chegarem a uma qualquer instituição de solidariedade social (por académica hipótese) premunidos de fotógrafos e microfones para fazerem uma doação de material aí escasso, assim sensibilizando e caindo no goto de quantos tomam do divulgado facto conhecimento.
Estes abnegados, para lá das exactas circunstâncias do seu agir, apreciam fazer passar por parvos os cidadãos ao constituírem-se e instituírem-se em primeiro plano como beneméritos, altruístas e etc. e tal.
Depois, poderá surgir um cidadão da polis transigente – não ao tráfego de influências, credo! – à bondade e hombridade destes antropófilos, destes altruístas, potenciando a lata e merecida gratidão desta benemerência empresarial.
No fundo, provavelmente, água chilra do mesmo charco… Ou estaremos enganados?