Austeridade para salvar bancos e credores privados
A Comissão de Auditoria da Dívida (A Comissão Verdade) deveria ter sido feita a todos os países endividados da UE, segundo regulamentação imposta em 2013. Nenhum país europeu teve a coragem de a requerer. Porquê? A Grécia fê-lo e as conclusões são interessantes:
A primeira constatação é de que os planos de ajuda do Eurogrupo, FMI, Troika, etc., apenas tinham como objectivo salvar os bancos estrangeiros.
A segunda é de que parte da dívida grega é ilegítima e ilegal. Acrescente-se que esta Comissão foi composta por peritos e representantes da sociedade civil: economistas, juristas, sociólogos, banqueiros…
“A maior parte dos empréstimos públicos feitos ao Estado são ilegais pois nunca foram utilizados em benefício da população, mas apenas para salvar os credores privados da Grécia.”
“A crise das finanças públicas foi alimentada por um endividamento privado que acabou por implodir.”, lê-se no relatório.
“O sobreendividamento das famílias foi favorecido pelo incitamento dos bancos à obtenção de créditos fáceis, sem considerar riscos que deitaram por terra o sistema bancário do país.”, constata o economista internacional, Michel Husson.
Terceiro, o governo de Georges Papandréou juntou, com a plena cumplicidade da Eurostat, elementos não integráveis no cálculo do deficit público. Nomeadamente, grande parte das dívidas bancárias, dramatizando a situação ao revelar, quando foi eleito em Outubro de 2009, que a dívida pública era de 127% do PIB com um deficit de 12%, quando e antes da sua eleição o mesmo a avaliara em 100%, com um deficit público de 6%…
Conclui que Papandréou dramatizou a situação e manipulou os números com um único objectivo, não o de salvar o país, mas sim o de salvar o sistema bancário e os grandes bancos estrangeiros como o BPN, Crédito Agrícola, o ING e o Deutsche Bank. Dramatizar a situação foi um excelente meio para impor as políticas de austeridade, sendo o plano de salvação da Grécia instituído pela CE, pelo BCE e FMI ilegal. Mais, o FMI estava perfeitamente consciente do impasse das políticas de ajustamento, as quais iriam provocar uma quebra das despesas públicas e destruir todas as convenções sociais vigentes.
Um documento secreto do FMI datado de 25 de Março de 2010 é elucidativo: “A terapia imposta à Grécia nunca permitirá ao país renovar o seu crescimento nem permitirá o financiamento nos mercados financeiros internacionais.” e a Troika, em coro trágico, acrescenta: ” Atenas deve aceitar a cura de austeridade!”
Ilegal, porque o FMI nunca pode emprestar a um país que não possui a capacidade de pagar. Mas também ilegítimo, pois os direitos humanos do povo grego foram violados por imposições cujas consequências sociais eram consciente e cirurgicamente escalpelizadas no seio do FMI.
Este conjunto de medidas impostas levou a que a dívida pública passasse de 100% do PIB em 2008 para os 177% de hoje e que a produção anual da Grécia caísse 25%, com uma descida do investimento de 23%, entre 2009 e 2013. A taxa de desemprego é de 27%, um em cada dois jovens estando desempregado e sendo a taxa de pobreza de 26% (a média da UE é de 16%).
Alguém falou em VAMPIROS?