Ouvirmos e vermos o líder do Chega em três debates televisivos permite perceber a massa mole de que é feito e a retórica da falácia usada, na qual assenta a sua demagogia populista, passe a tautologia.
Podemos começar com as “cartolinas” que recorrentemente brande no ar para, exibindo um credível e verosímil documento, dar cimento às suas invencionices. Documento que o espectador não consegue ler, mas que serve para dar substância à balela proferida.
Sobre a prisão perpétua, que brande em bandeira para se armar em justiceiro, acaba afinal por se descair e decidir-se por uma prisão perpétua mitigada, que o mesmo é dizer que o condenado sairá ao fim de uma dúzia de anos.
No âmbito da corrupção, já esquecido dos escândalos no seio do seu partido, com personagens que de repente saíram da circulação como aquele “cônsul honorário” na Florida, um tal do Paço, acusou António Costa de ter sido ministro da Justiça de José Sócrates. E se fosse verdade? Mas não foi… António Costa foi ministro da Justiça no XIV Governo Constitucional (1999/2002), que teve como primeiro-ministro António Guterres.
Evidentemente que associar Costa a Guterres, hoje secretário-geral da ONU, um dos cargos mais prestigiados do planeta, não surtia o deslumbrante efeito “splash”. Por isso, usando de mais um ardiloso embuste, tentou através da grosseira “peta” colar Costa a Sócrates, o antigo primeiro-ministro que está a contas com a Justiça.
Para aumentar a riqueza do país, propõe-se reduzir o salário dos políticos, a começar por si próprio. Esqueceu-se de referir as acumulações que manteve ou mantém no sector privado, como consultor fiscal da milionária Finpartner, assim como a de comentador de futebol no grupo de comunicação social Cofina, simultaneamente defendendo a exclusividade de funções dos políticos.
Quanto à reforma fiscal, com a taxa única do IRS proposta, vem preconizar que seja a mesma para o multimilionário e para o indigente.
Sobre os números do desemprego volta a fugir à verdade ao admitir que baixaram, mas numas “insignificantes décimas”, quando efectivamente se trata de outro grosseiro logro.
Enfim, cada cavadela sua minhoca…
Lastimavelmente, em Portugal, ainda há quem goste de ser enganado e acredite piamente que as criancinhas vêm de Paris no bico de uma cegonha.