Andamos todos a descobrir os encantos da vida familiar e do lar.
Interessante o filme mostrado ontem na SIC Notícias que mostrava um casal de pinguins a passear nos corredores do Oceanário de Lisboa com um ar muito intrigado, olhando para um lado e para o outro, para o espaço totalmente deserto do seu numeroso público habitual.
Perplexos ficamos todos nós ao encarar repentinamente esta nova vivência que nos retira das actividades exteriores e nos cinge aos espaços fechados da nossa intimidade.
É imperioso que todos encaremos este período de tempo com o possível optimismo, tentando criar rotinas positivas que nos mantenham produtivos e ocupados.
Conto-vos o meu dia, que não sendo exemplar, me é sustentável.
Ergo-me à hora habitual, sem cedências. 07H45. Pratico 15 minutos de exercício físico básico e trato dos meus cuidados de higiene. Faço a cama e limpo a casa de banho. Às 08h30 desço à cozinha e preparo o meu pequeno almoço de sempre: um copo de água, um café e uma peça de fruta. Hoje, um kiwi e três bagos de uvas.
Cuido das gatas. Ouço as notícias em busca sempre esperançada das boas novas.
Subo ao escritório. Abro a caixa de emails e vejo o correio. Vou à “Rua Direita” transpor os textos recém-editados na plataforma para o FB “Rua Direita Viseu”. Desenho o bonecrito do dia, que representa para mim uma excelente forma de descerebralizar.
São 11H00, tempo da leitura. Estou a ler “Central Europa” de William T. Vollman, obra polifónica e de grande fôlego cuja acção decorre na Alemanha e Rússia de Hitler e de Estaline. Uma hora de leitura com os fones nas orelhas a ouvir a música que aprecio. Tomo notas e ao fim, consulto no Google algumas das personagens e dos espaços referenciados no livro. Uma boa complementaridade à leitura.
Bebo o segundo café matinal e ajudo na cozinha (embora seja um inepto provado e consagrado…). 12H30 – Hora de almoço. Lembro a necessidade de consumirmos proteínas pois desempenham um papel relevante ao fornecerem “material” tanto para a construção como para a manutenção de ossos e músculos, fazendo parte da formação de enzimas, anticorpos e hormonas. Também tenho em conta de que esta vivência sedentária me gasta menos energia e reduzo sensatamente a quantidade de alimentos ingeridos. É essencial consumir frutas e legumes da época. As de março são, respectivamente: ananás, banana, laranja, limão, maçã, pêra, kiwi e tangerina; agrião, alface, beterraba, cebola (agora não tem que se preocupar tanto com o hálito…), couve, espargos, grelos, nabiças e nabos, as espécies mais comuns.
São bens essenciais e por dia, o mínimo é de cerca de 400 gramas ou 5 doses.
Depois do almoço, o terceiro café. Trato do lixo doméstico. Meia hora de conversa e aproveito a fazer, enquanto tal é possível, uma caminhada no espaço em frente, completamente deserto de transeuntes e respeitando escrupulosamente todas as prescrições e precauções impostas pela DGS.
De tarde, escrevo e preparo a edição da “Rua Direita” deste dia, para que o Pedro, depois do seu horário de trabalho, possa proceder à sua cuidada edição que complementa com a sua selecção pessoal de “news”.
Aproveito para arrumações pendentes. Geralmente livros há muito fora de sítio.
Pego numa câmera e deambulo pela casa à procura de um motivo qualquer para fotografar. De seguida descarrego as imagens e enquanto ouço música, edito-as e guardo-as metodicamente em pastas para o efeito tematicamente criadas.
Vai a tarde no seu fim. Um dvd com bom cinema é bem-vindo. Coleccionei-os durante anos, sendo agora muito úteis. Em geral, 90 minutos assim se escoam.
Ajudo com pouca eficácia ao preparar do jantar. Ouço as mais relevantes notícias das 20H00. Dou um curto passeio a pé.
Momento de falar com os amigos e com os familiares, via internet. Fazer os telefonemas sociais e profissionais. 23h00. Tempo de deitar. Leio durante 30 a 60 minutos. Apago a luz e tento dormir.
A estas horas já está o estimado leitor a criticar esta minha estratégia de “hibernação” e a dizer “Este tipo é um privilegiado! Quem o manda dar conselhos da treta? Ah, se tivesses filhos para cuidar. Trabalho exterior para cumprir…”
Pois serei. Sou aposentado de 40 anos ao serviço da Educação e não dou conselhos a ninguém, apresento somente as minhas inocentes sugestões para esta inusual clausura. Claro que cada um tem as suas circunstâncias e nem vale a pena trazer para aqui o Ortega Y Gasset…
E sabe porque o faço? Por solidariedade e necessidade de contactar, desta ou de outra forma, com o real circundante, numa interacção, na minha óptica, salutar.
Claro que pode a toda o momento mandar-me passear. Coisa que aliás gostaria muito de fazer mas que de momento, a todos nós está impedida, pela nossa saúde e de toda a comunidade envolvente.